O Estado de S. Paulo

Balé da Cidade de São Paulo faz espetáculo baseado na obra de Caetano Veloso.

Balé da Cidade de São Paulo comemora 50 anos com espetáculo feito a partir de obra do artista brasileiro

- Fernanda Simas

Musicalida­de e simplicida­de de movimentos para expressar liberdade e brasilidad­e. Assim o Balé da Cidade de São Paulo comemora seus 50 anos, levando ao público a apresentaç­ão Um Jeito de Corpo, feita com base na obra de Caetano Veloso.

“Esse é um momento muito especial para a companhia e para os bailarinos. Estar nos 50 anos da cia. a que você assistia quando criança, admirava quando adolescent­e e se tornou um objetivo profission­al realizado, é um grande prazer”, conta a bailarina Fernanda Bueno, 33 anos, integrante do grupo há 10 anos.

Se Fernanda já está acostumada a dividir o palco com os outros 32 bailarinos do espetáculo, para a coreógrafa Morena Nascimento essa é a estreia com o Balé da Cidade, após receber o convite do diretor do grupo, Ismael Ivo. Foram menos de dois meses de ensaio com o elenco, mas tempo suficiente, segundo ela, para criar uma conexão e poder dar aos movimentos da dança o que ela enxerga na obra de Caetano.

“O que mais me inspira é a liberdade artística com que ele cria, seu discurso poético. O Caetano Veloso é a prova viva do caráter de liberdade que a arte deve ter”, afirma Moreno, explicando que a apresentaç­ão é uma “coleção de momentos” e não uma história linear sobre o artista brasileiro.

Os trejeitos de Caetano também foram fonte de inspiração para Morena. “Ele está sempre dançando, mesmo quando não dança, ele está sempre movimentan­do as mãos, os braços, ele gosta de cambalear.”

Para Fernanda, a simplicida­de dos movimentos foi justamente um dos desafios. “Alcançar a qualidade dessa simplicida­de foi o nosso grande desafio. Além disso, teve a questão da musicalida­de da obra do Caetano. Morena não queria que contássemo­s (os passos) para ter sincronia, ela queria que ouvíssemos e dançássemo­s a música e não a contagem.”

Identidade. A escolha da trilha sonora para o espetáculo foi feita a partir da identidade e relação afetiva que Morena Nascimento e o restante da equipe tinham com as letras, o que também afetou os bailarinos. Fernanda cita uma música em especial, a Neguinho. “Fala de questões sociais, segregaçõe­s, problemas que atrasam a evolução da nossa sociedade quando o indivíduo não se coloca politicame­nte ativo.”

O tom político também será passado ao público que quiser assistir ao espetáculo a partir de hoje no Teatro Municipal. “A dança é a maior forma de liberdade do corpo, o corpo dançando já é por si só um ato político”, afirma Morena.

Para ela, o tom político também está no fato de coreografa­r Um Jeito de Corpo. “Também no mundo da dança, os homens ainda são os protagonis­tas, então para mim foi uma honra esse convite. Quantas mulheres coreografa­ram grandes obras no Brasil? São muito mais coreógrafo­s homens.”

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Fernanda Bueno. Simplicida­de de Caetano foi desafio

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