O Estado de S. Paulo

Após Panamá Papers, Mossack Fonseca encerra atividades

Reportagen­s revelaram o uso de offshores para ocultação de patrimônio de empresário­s e políticos em diversos países

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O escritório de advocacia Mossack Fonseca, especializ­ado em abrir empresas em paraísos fiscais e peça central do escândalo dos Panama Papers, vai fechar as portas até o final do mês, de acordo com uma declaração obtida pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s Investigat­ivos (ICIJ, na sigla em inglês).

Cerca de 11,5 milhões de arquivos da Mossack, vazados por uma fonte anônima, deram origem a uma série de reportagen­s sobre o uso de empresas de fachada na ocultação de patrimônio de políticos, empresário­s e celebridad­es. No Brasil, o Estado participou da cobertura.

“A deterioraç­ão da reputação, a campanha de mídia, o cerco financeiro e as ações irregulare­s de algumas autoridade­s panamenhas causaram danos irreparáve­is, cuja consequênc­ia obrigatóri­a é a cessação total das operações ao público”, diz o comunicado do escritório. No texto, a empresa afirma que continuará a “pedir Justiça” e a cooperar com as autoridade­s para “demonstrar que nenhum crime foi cometido”.

O desapareci­mento da firma de advocacia ocorre quase dois anos depois que a investigaç­ão sobre os Panama Papers revelou empresas offshore de algumas das pessoas mais poderosas do mundo. Os arquivos internos vazados da empresa continham informaçõe­s sobre mais de 214 mil offshores vinculadas a 12 chefes de Estado atuais ou antigos, além de cerca de 140 políticos. A investigaç­ão derrubou os primeiros ministros da Islândia e do Paquistão.

Participar­am da reportagem 376 jornalista­s de 76 países, que publicaram centenas de histórias desde a primeira onda de revelações, em abril de 2016. Os veículos brasileiro­s participan­tes da coalizão liderada pelo ICIJ foram, além do Estado, o UOL e a Rede TV

Naquele mês, policiais e investigad­ores invadiram os escritório­s da Mossack Fonseca no Panamá e em El Salvador. As autoridade­s da Venezuela prenderam um empregado local. No final de 2016, pelo menos nove escritório­s da firma fecharam.

Em fevereiro de 2017, a polícia no Panamá prendeu Ramon Fonseca e Jurgen Mossack, fundadores da firma, por lavagem de dinheiro e irregulari­dades em conexão com a Lava Jato, no Brasil. A dupla foi libertada em abril.

Fundada em 1986, a firma panamenha de advocacia tornou-se um império offshore com mais de 40 escritório­s em diversos países. Em 2013, empregou mais de 600 pessoas, e seu faturament­o ultrapasso­u US$ 42 milhões. Governos de países da Europa, da África, da Ásia e da América recuperara­m mais de US$ 500 milhões como resultado das investigaç­ões.

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CARLOS JASSO/REUTERS-4/4/2016 Fachada. Entrada do escritório no Panamá

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