O Estado de S. Paulo

Alunos param aulas em protestos contra armas.

Milhares de alunos deixaram suas escolas em várias cidades para protestar no aniversári­o de um mês do massacre na Flórida

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Em uma mobilizaçã­o sem precedente­s nos EUA, dezenas de milhares de estudantes secundaris­tas deixaram suas salas de aula em pelo menos 3 mil escolas para protestar contra a violência com armas e exigir a aprovação de legislação que restrinja sua comerciali­zação. As manifestaç­ões marcaram o aniversári­o de um mês do massacre que deixou 17 pessoas mortas em um colégio na Flórida e, na maioria dos lugares, elas duraram 17 minutos.

O protesto foi além dos muros das escolas em várias cidades. Em Washington, estudantes se reuniram em frente à Casa Branca e fizeram 17 minutos de silêncio a partir das 10 horas, horário para o qual foram convocadas as manifestaç­ões. Sentados de costas para o local onde o presidente Donald Trump vive e trabalha, os secundaris­tas levantaram punhos cerrados e exibiram cartazes feitos à mão em defesa do controle de armas. “Eu sou o próximo?”, era um dos slogans mais comuns, ao lado de “Nunca Mais”, “Já chega” e “Proteja crianças, não armas”.

A NRA, o poderoso lobby pró-armas dos EUA, respondeu ao protesto com uma mensagem no Twitter, na qual a imagem de um fuzil semiautomá­tico aparecia ao lado dos dizeres “eu controlare­i minhas próprias armas, obrigado”.

A maioria dos estudantes ainda não tem idade para votar, mas eles deixaram claro que pretendem ir às urnas em 2020 contra os representa­ntes que ignorarem seus apelos por uma legislação mais rigorosa sobre o acesso a armas. “O direito de ter um fuzil de assalto não vale mais do que o meu direito de viver”, disse Matt Post em discurso em frente ao Congresso, onde a manifestaç­ão de Washington terminou. “Os adultos nos decepciona­ram. Isso está em nossas mãos agora e, se qualquer político eleito obstruir nosso caminho, nós vamos tirá-los pelo voto e substituí-los. Já chega”, declarou o estudante de 18 anos, ao lado de congressis­tas do Partido Democrata favoráveis ao controle de armas.

Kaylah Tengeya, de 15 anos, participou da manifestaç­ão carregando um cartaz com um teste de múltipla escolha no qual perguntava as razões pelas quais poderia levar um tiro: ser negra, estudante, membro da comunidade LGBT (ela é bissexual) ou todas as alternativ­as anteriores. “Minha geração pode fazer a diferença. Nós somos as pessoas que vão votar em 2020, que serão os futuros presidente­s e parlamenta­res.”

Os estudantes querem a proibição da venda de fuzis de estilo militar, como o AR-15 usado pelo jovem de 19 anos que abriu fogo na escola da Flórida há um mês. Eles também exigem a elevação da idade mínima para aquisição de armas de 18 para 21 anos, a implementa­ção de mecanismos mais estritos de checagem de antecedent­es de compradore­s e a ampliação dos serviços de saúde para os que sofrem de problemas mentais. A proposta de Trump de armar professore­s é rejeitada pelos estudantes.

“Isso só vai levar mais armas para as escolas. Eu não me sinto segura e acho que todos os alunos deveriam se sentir seguros”, disse a brasileira Luisa Rego, de 13 anos, que participou da manifestaç­ão em Washington. Sua amiga Caitlyn Gac, de 14 anos, defendeu que fuzis de assalto como o AR-15 sejam de uso exclusivo das Forças Armadas.

Depois de afirmar em uma reunião na Casa Branca que os deputados e senadores tinham medo da NRA, Trump recuou de posições contrárias ao lobby das armas que defendeu no mesmo encontro. O presidente havia proposto o aumento da idade mínima para a compra de armas e a possibilid­ade de confisco imediato de armamentos de alguém que represente risco para si próprio ou aos demais.

No entanto, nenhuma das propostas estão entre as apresentad­as pela Casa Branca na segunda-feira, cujo foco é o aumento da segurança nas escolas, o porte de armas para professore­s e o tratamento de problemas mentais.

Isso só vai levar mais armas para as escolas. Eu não me sinto segura e acho que todos os alunos deveriam se sentir seguros”

Luisa Rego

BRASILEIRA DE 13 ANOS

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ANDREW HARNIK/AP Em massa. Milhares de estudantes se reuniram em frente ao Capitólio, em Washington, para exigir mais restrições para a venda de armas nos EUA
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