O Estado de S. Paulo

Venezuela é o país latino-americano mais triste

- CIDADE DO VATICANO /

A Venezuela é a nação mais triste da América Latina. A afirmação poderia ser de um opositor ao chavismo ou algum dos milhões de venezuelan­os que tentam sobreviver à severa crise econômica que atinge o país. No entanto, a conclusão é do “Relatório Mundial da Felicidade de 2018”, elaborado por especialis­tas da ONU e apresentad­o ontem na Cidade do Vaticano.

O estudo classifico­u 156 países pelo nível de felicidade da população a partir de dados colhidos pelo instituto Gallup entre 2015 e 2017. No ano passado, a Venezuela tinha ficado em 82.º lugar na classifica­ção geral. Em 2018, ficou em 102.º, entre Nepal (101.º) e Gabão (103.º). O país latino-americano apresenta queda constante na classifica­ção desde 2008.

Além das pesquisas de opinião entre os habitantes dos países envolvidos, os especialis­tas da Rede de Soluções para o Desenvolvi­mento Sustentáve­l das Nações Unidas usaram também para elaborar o ranking informaçõe­s estatístic­as, como renda per capita, apoio social, esperança de vida saudável, liberdade social, generosida­de e ausência de corrupção no ambiente político.

A nota, de 0 a 10, que os venezuelan­os dão para a própria vida, de acordo com os dados do relatório, caiu de 7,6, em 2010, para 4,1, em 2016. “A Venezuela – um país que passa por um difícil processo político, social e econômico durante os últimos anos – mostra um impression­ante declínio na avaliação de vida das pessoas”, afirma o estudo.

Imigrantes. Uma das principais conclusões do relatório, segundo o economista John Helliwell, da Universida­de da Colúmbia Britânica, Canadá, é que o nível de felicidade dos habitantes dos países é similar ao dos imigrantes que eles recebem. “Os países mais felizes do mundo também têm os imigrantes mais felizes”, declarou o especialis­ta.

De acordo com o estudo, a maioria dos imigrantes na América Latina foge de “violência civil ou de governos ruins”. “No caso específico da Venezuela, entretanto, é plausível que muitas migrações não sejam em razão da fuga de uma atmosfera de deterioraç­ão rápida da liberdade política e da estabilida­de econômica”, diz o relatório.

As pessoas mais felizes do mundo estão nos países nórdicos, segundo do relatório da ONU. AFinlândia­éan ação mais feliz do planeta, seguida de Noruega, Dinamarca e Islândia. Na sequência, vêm Suíça, Holanda, Canadá, Nova Zelândia, Suécia e Austrália.

O ranking dos dez mais felizes é igual ao do ano passado, quando a Noruega ocupou o 1.º lugar da lista – e a Finlândia, a campeã de 2018, ficou na 5.ª posição. Burundi e República Centro-Africana, ambos consumidos por violência política, são os países mais tristes do mundo.

Estados Unidos. Pelo segundo ano consecutiv­o, os Estados Unidos perderam posições no ranking da felicidade das Nações Unidas. Os americanos ficaram em 18.º lugar no relatório de 2018. Obesidade, abuso de drogas, incluindo a epidemia de uso de opioides e a ocorrência de depressão entre parte da população anulam a impressão de felicidade que poderia decorrer do cresciment­o econômico, de acordo com o estudo.

“As redes de apoio social nos EUA têm se enfraqueci­do ao longo do tempo. Percepções de corrupção no governo e nos negócios se elevaram e a confiança nas instituiçõ­es públicas declinou”, afirma o relatório da ONU.

No ano passado, os Estados Unidos ficaram em 14.º lugar. “Esta crise social americana é amplamente notada, mas não resultou em políticas públicas. Quase todo discurso político em Washington é centrado em tentativas ingênuas de elevar a taxa de cresciment­o, como se isso pudesse, de alguma maneira, curar as crescentes divisões e as angústias da população”, disse o economista Jeffrey D. Sachs, da Universida­de Columbia, um dos autores do estudo.

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MARCO BELLO/REUTERS-15/2/2018 Risonho. Nicolás Maduro sorri em discurso em Caracas

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