O Estado de S. Paulo

O veneno letal demais para usar, até alguém usá-lo

- Ellen Barry e Ceylan Yeginsu / NYT

Há quase três décadas o agente neurotóxic­o Novichok assusta os especialis­tas americanos em armas. Nesse período, o Pentágono destruiu laboratóri­os abandonado­s que uma vez produziram o produto químico, mais letal do que sarin ou VX.

Agora, os britânicos receberam a inquietant­e informação de que o Novichok, uma arma inventada para uso contra as tropas da Otan, foi usado na tranquila cidade de Salisbury, tendo por alvo o antigo espião russo Serguei Skripal.

Em entrevista­s, especialis­tas em armas químicas disseram que era possível que o Novichok tenha sido usado antes em alvos do Kremlin na Grã-Bretanha, sem ser detectado. Andrew C. Weber, exsecretár­io adjunto de defesa dos EUA, disse que o Novichok é um produto quase exclusivo da Rússia. “É improvável para mim – possível, mas não provável – que essa arma química possa ter sido desviada de uma instalação russa.”

Embora os laboratóri­os americanos tenham deixado de produzir agentes nervosos em 1970, os cientistas soviéticos continuara­m seu trabalho por duas décadas. Um químico que trabalhou em um dos laboratóri­os que desenvolvi­am o Novichok inalou acidentalm­ente vapores do agente e teve um colapso. Colegas injetaram um antídoto e o salvaram. Ele teve depressão e crises de epilepsia por cinco anos, antes de morrer. “Existem antídotos, mas o que o antídoto significa? Você está salvando uma pessoa que foi exposta ao gás, para não morrer desta vez. Mas ele será inválido para o resto de sua vida”, disse Vil Mirzayanov, um químico russo que trabalhou no desenvolvi­mento do Novichok.

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