O Estado de S. Paulo

Jobson pagava ‘pedágio’ para viver

Acusado de estupro de menores, ele aguarda julgamento em cela no Tocantins. Advogado diz que jogador dava R$ 300 a detentos para não morrer

- Gabriel Melloni

Acostumado a atuar em alguns dos principais estádios do Brasil, Jobson ruiu na mesma velocidade com que explodiu para o futebol pelo Botafogo, há quase 10 anos. Primeiro, foram os casos de doping que interrompe­ram sua trajetória. Agora, a prisão sob acusação de estupro de vulnerável (menor de idade), com ameaça de morte. Há duas semanas, o atacante precisou ser transferid­o de cadeia para evitar as ameaças e a extorsão de outros detentos.

Preso provisoria­mente na cidade de Colmeia, a 266 km de Palmas, capital do Tocantins, Jobson viveu o fundo do poço. Enquanto aguarda o julgamento, foi colocado ao lado de criminosos condenados e teve de lidar com uma lei não escrita dos detentos contra acusados de estupro. Ele precisou, então, pagar para sobreviver e para que o terror ficasse só nas ameaças.

“Os presos em todo o mundo não aceitam o crime pelo qual ele foi acusado, porém não condenado. Todo cidadão conhece essa regra das cadeias. Sempre que alguém é preso por estupro, fica separado. Mas a cadeia não tem estrutura. O Jobson estava em cela com os presos do semiaberto, depois o colocaram com os outros e começaram as ameaças. Pediam R$ 300 por semana para deixá-lo vivo”, revela ao Estado o advogado Josenildo Ferreira da Silva.

Informada sobre os acontecime­ntos, a Secretaria de Cidadania e Justiça do Tocantins (Seciju) tratou como “supostas ameaças” e fez questão de salientar que “o preso não sofreu agressão física dos demais detentos”. Mesmo assim, em parceria com o Poder Judiciário do Estado, atendeu ao pedido do advogado da defesa e transferiu Jobson, que desde o fim de fevereiro está detido na cidade de Paranã, a 350 km de Palmas.

“A situação está melhor agora, mais próxima do que se espera”, afirma o advogado. A reportagem entrou em contato com a diretoria da cadeia de Paranã, que disse não poder comentar o caso devido ao segredo de Justiça, mas garantiu que o jogador encontra-se “bem e tranquilo” em sua cela na nova cadeia.

Como os outros presos, alguns também esperando julgamento, Jobson acorda cedo, toma café com leite e come pão e manteiga e vai para o banho de sol. Entre o almoço e o lanche da tarde, faz o possível para manter-se em forma com a estrutura que a cadeia oferece e, mesmo não muito afeito à leitura, lê alguns livros. Aguarda ansiosamen­te pelas visitas de sua mãe, Lourdes, que eram semanais em Colmeia, mas se tornaram mais escassas em Paranã.

Aos 30 anos, Jobson sonha diariament­e com seu retorno ao futebol. Mas, para isso, terá de provar sua inocência. Não há data para o julgamento. Ao lado de dois amigos, ele teria aproveitad­o uma festa na cidade de Couto de Magalhães, no Tocantins, para aliciar quatro garotas menores e levá-las para sua chácara, onde teriam sido embriagada­s. E uma delas, abusada.

O processo corre em segredo de Justiça justamente para a proteção das adolescent­es. Como elas são menores, trata-se de uma ação incondicio­nada, ou seja, sem a necessidad­e de acusação da vítima e com representa­ção do próprio Ministério Público. O Estado tentou contato com alguém ou advogado que pudesse responder por elas, mas não obteve sucesso.

Josenildo garante a inocência de seu cliente, mas lamenta o fracasso de sua carreira. “Estava acostumado a outra coisa, grandes clubes, realidade diferente. É um choque. Ele sabe que é o único responsáve­l.”

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MARCELO MOREIRA/FUTURA PRESS-19/10/2014 Fundo do poço. Jobson chegou a ser ídolo no Botafogo, mas não teve equilíbrio e foi parar na cadeia, acusado de estupro
 ?? SEC. DE ESTADO DA CIDADANIA E JUSTIÇA DO TOCANTINS ?? Proteção. Jogador foi transferid­o para Paranã após ameaças
SEC. DE ESTADO DA CIDADANIA E JUSTIÇA DO TOCANTINS Proteção. Jogador foi transferid­o para Paranã após ameaças

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