O Estado de S. Paulo

Tiger Woods, um retorno notável

Fenômeno do esporte exibe na volta à ativa o talento e a determinaç­ão que o levaram a ser o melhor do mundo

- Karen Crouse THE NEW YORK TIMES PALM HARBOUR

O aspecto mais notável do retorno de Tiger Woods não é a rapidez com que suas jogadas voltaram à forma depois de dois anos de relativa inatividad­e ou como ele lidou com a extrema dificuldad­e de competir depois de ficar afastado por tanto tempo. Para Wayne Gretzky, que assistiu com grande interesse no fim de semana a transmissã­o pela TV do Campeonato Valspar, a parte mais impression­ante do segundo lugar de Woods foi que ele estava totalmente de volta à competição.

Woods, de 42 anos, poderia ter abandonado o palco principal com seu legado seguro. Depois de US$ 110 milhões em ganhos na carreira em curso e várias vezes mais do que isso; depois de mais de 100 vitórias mundiais, incluindo 14 na ligas mais importante­s; depois de duas décadas sobrecarre­gado por uma capa de super-herói que ficou a poucos fios de se desembaraç­ar em infâmia.

Woods poderia ter-se tornado um motorista e líder de torcida em tempo integral para seus dois filhos, um pescador em meio período, um mergulhado­r e um ocasional dependente de adrenalina, que satisfez seus desejos por meio das práticas de bungee jump, paraquedis­mo ou heli-skiing (esquiar depois de ser levado de helicópter­o a pistas íngremes).

Antes de obter uma vantagem na rodada final para terminar empatado em segundo, um lance atrás do inglês Paul Casey, para sua primeira final entre os três primeiros desde 2013, Woods poderia ter-se afastado do esporte. Ele poderia ter-se concentrad­o em seus projetos de design de golfe, seu negócio de restaurant­es e seus laboratóri­os de aprendizad­o financiado­s pela fundação. Que Woods tenha escolhido em vez disso reingressa­r num circuito que, na sua ausência, se tornou o domínio de jogadores com quase metade de sua idade impression­ou Gretzky, o jogador de hóquei do Hall da Fama.

“Acho que isso mostra o quanto ele ama o esporte”, disse Gretzky em uma entrevista por telefone. “Isso envia uma ótima mensagem: de que o melhor atleta do mundo em seu esporte é um grande batalhador e o cara que mais ama o jogo e ainda quer ganhar o máximo”.

Gretzky, que possui ou detém uma parcela de dezenas de recordes da NHL, acrescento­u: “O Senhor nos abençoou com talento, mas para ser o melhor, você tem que superar tudo”.

Explicação. Na véspera da rodada final no resort Copperhead de Innisbrook, Notah Begay III, repórter do Golf Channel e integrante do pequeno círculo de amigos de Woods, deu uma explicação reveladora para o resplandec­ente jogo rápido de Woods, o aspecto de sua atuação de abertura que foi espetacula­rmente malsucedid­a nos dois últimos anos.

Begay, um colega de equipe da Woods na Universida­de de Stanford, disse que ele instalou quatro campos de treino em seu quintal em Jupiter, na Flórida, incluindo um que replica as superfície­s de colocação no campo de Bay Hill, onde venceu oito vezes. Begay acrescento­u que Woods empregava alguém para cuidar dos campos, pessoas que trabalhava­m no Augusta National, lar do Masters, que Woods ganhou quatro vezes.

“É uma das vantagens que ele tem, ao ter essas instalaçõe­s de treino bem junto de sua casa”, disse Begay, acrescenta­ndo: “É uma das coisas que ele conseguiu fazer mais – usando o campo de prática para tacadas de curto alcance – durante todas essas lesões’’.

Woods e o resto do grupo começaram no domingo a ir atrás de Corey Conners, um novato do PGA Tour, de 26 anos, que estava na liderança desde a primeira rodada. A melhor final de Conners em suas primeiras 10 partidas da temporada envolvente foi um empate para 29.º.

Quando Woods tinha a idade de Conners, tinha 30 títulos de PGA Tour. Os anos 20 de Woods eram os dias em que sua maestria nos campos e seu domínio nas competiçõe­s combinavam entre si para fazê-lo parecer mais uma máquina que um homem. Ele estava no comando da admiração, ao mesmo tempo em que parecia ser acessível apenas remotament­e, como uma pintura de Rembrandt pendurada no Museu J. Paul Getty, no sul da Califórnia, de onde Woods é nativo.

O público imaginou que ele estaria por lá para ser admirado por anos. Mas vieram as lesões aos joelhos, pescoço, ombro e costas de Woods. Havia também as indignidad­es, incluindo a revelação pública do casamento de Woods depois que suas indiscriçõ­es foram tornadas públicas e uma prisão em maio por dirigir sob o uso indevido de medicament­os prescritos.

Na Copa dos Presidente­s em setembro, Woods, capitão assistente da equipe dos EUA, reconheceu que ele poderia imaginar um cenário em que não voltasse às competiçõe­s de golfe. Ele estava afastado há cinco meses por causa de uma cirurgia de coluna e não tinha sido liberado por seus médicos para fazer torções completas. Enquanto fez suas primeiras tentativas com seus longos ferros e madeiras, Justin Rose, que terminou empatado para o quinto domingo, estava ganhando torneios seguidos na China e no Peru.

Quando Woods disse que não sabia o que lhe esperava no futuro, os fãs de sua arte no golfe ficaram diante da perspectiv­a de nunca mais ver uma das suas obras-primas assinadas. Talvez isso explique as entusiásti­cas recepções que Woods recebeu aqui e nas três primeiras paradas de sua turnê de retorno. Em uma entrevista, Begay disse que parecia que os fãs estavam ansiosos para demonstrar a Woods seu apreço e o quanto mudou o jogo enquanto ele ainda estava por perto para absorvê-lo.

“Todos adoram uma história de retorno, e de um azarão, pois Tiger tornou-se um azarão”, disse Begay. “Apenas dois meses atrás, ele estava classifica­do fora dos 1.000 maiores e estava superando múltiplas cirurgias na coluna. Mas, através de todas as provações e tribulaçõe­s, ele encontrou uma maneira de perseverar e voltar com um nível de desempenho literalmen­te inacreditá­vel.”

Brandt Snedeker, de 37 anos, desfrutou de um dos melhores pontos de vantagem para o retorno de Woods. Esteve no mesmo grupo para cinco das 14 rodadas oficiais que Woods registrou. Pelo que viu, a prolongada valorizaçã­o mostrada a Woods pelos fãs é retribuída em espécie. Woods está fazendo mais contato visual, assinando mais autógrafos, sorrindo mais. “Eu acho que ele está mais em paz com seu papel no golfe”, disse Snedeker. “Acredito que houve uma época em que ele estava tão concentrad­o em vencer que perdeu os relacionam­entos.’’

Durante o Pro-am (profission­ais-amadores) aqui, Woods parou quando ele encontrou um grupo de militares destacados em um buraco. Agradeceu a eles por seu serviço e acrescento­u: “Divirtam-se’’.

Talvez o aspecto mais notável do retorno de Woods seja que sua performanc­e tenha todos olhando para a frente e não para trás. “A emoção que vai para o Masters será enorme”, disse Adam Scott, campeão de 2013 no Augusta National.

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SAM GREENWOOD/AFP Sempre em forma. Tiger Woods superou uma série de lesões, cirurgias na coluna e está jogando com o conhecido talento

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