O Estado de S. Paulo

Indústria local pede proteção ao governo

Com sobretaxa dos EUA, empresário­s cobram medidas protecioni­stas do governo

- SILVA, LU AIKO OTTA E FERNANDA GUIMARÃES

O anúncio dos Estados Unidos de sobretaxar as importaçõe­s de aço em 25% e as de alumínio em 10% está gerando nova onda de pedidos de proteção à indústria brasileira por parte do empresaria­do local. O movimento ocorre num momento em que o Ministério da Fazenda se opõe a qualquer tipo de ajuda ao setor industrial.

Ontem, o presidente da Companhia Siderúrgic­a Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, cobrou do governo brasileiro medidas para proteger o mercado de eventual fluxo de entrada de produtos chineses em todos os segmentos, e não só o aço.

Ele disse, por exemplo, que o antidumpin­g (quando um produto é exportado a preços menores que os praticados no país de origem), tem de ser tratado de forma mais séria. O executivo se referia à decisão recente da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada à Fazenda, de não aplicar medida antidumpin­g na importação de aço da China e da Rússia alegando interesse público (risco de inflação).

Segundo Steinbruch, o jogo foi alterado e o País precisa se posicionar. “Levantaram a bola para o Brasil fazer gol”, disse. “Ou seremos um grande shopping center de produtos importados ou um país com infraestru­tura, com investimen­to intensivo de capital.”

Com receio de uma “inundação” de aço de países que deixarão de exportar para os EUA, o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, disse que “não podemos ser ingênuos e manter as portas abertas e nos tornarmos a lixeira do mundo em termos de aço.”

Ele disse que, para a indústria siderúrgic­a brasileira os problemas serão a concorrênc­ia mais dura em destinos como a América Latina e a chegada de aço mais barato no próprio mercado brasileiro. “Precisamos de uma defesa comercial ágil, mas o Ministério da Fazenda não tem a indústria como prioridade.” A Fazenda não comentou.

A Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a forma de o País defender-se da concorrênc­ia desleal é ter um sistema forte de defesa comercial, sobretudo direitos antidumpin­g, amparado pela Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). Em nota, informou que “o governo americano quer combater comércio desleal usando uma lei contrária às normas internacio­nais. Já no caso do Brasil, o governo faz o certo ao buscar novos acordos comerciais, mas erra ao promover o desmonte da defesa comercial brasileira. “Há uma tentativa deliberada, liderada pelo Ministério da Fazenda e a Casa Civil, de politizar um processo técnico, desprotege­ndo a indústria e criando inseguranç­a jurídica.”

“Todos os países do mundo, exceto o Brasil, não só defendem sua indústria como a estimulam”, disse o presidente da Abiquim (setor químico), Fernando Figueiredo, que também criticou a Camex. “Não importa se esta decisão insana corta empregos no Brasil e transfere empregos bem remunerado­s para o exterior. Quem na Esplanada dos Ministério­s se importa com 12 milhões de desemprega­dos?”

Na opinião da economista Vera Thorstense­n, do Centro do Comércio Global e do Investimen­to, o Brasil precisa usar instrument­os para se defender com base nas regras da OMC. Ela criticou a negociação bilateral oferecida por Trump. “É um fato inédito impor a retaliação e sentar com cada país para negociar acordos de restrição”, disse. “É voltar às décadas de 80 e 90.”/CLEIDE

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