O Estado de S. Paulo

Oferta da PE pela Fibria pode esbarrar em florestas.

Proposta que avalia empresa brasileira em R$ 40 bi pode esbarrar em restrições de compra de áreas agrícolas no País por estrangeir­os

- Mônica Scaramuzzo

A oferta do grupo Paper Excellence (PE) para aquisição da Fibria, feita no último fim de semana, pode esbarrar em entraves jurídicos por conta da restrição de compra de terras por grupos estrangeir­os no Brasil, apurou o ‘Estado’. A companhia, que pertence à família indonésia Widjaja, também dona da Asia Pulp and Paper (APP), entrou na disputa pela compra Fibria, maior produtora global de celulose, depois de a Suzano, vice-líder no País, ter retomado as conversas para combinar os ativos com sua rival. Com operações no Canadá e na França, a Paper Excellence anunciou no ano passado a compra da Eldorado, do grupo J&F, da família Batista. A empresa tem fábrica no Mato Grosso do Sul, mesmo Estado onde a Fibria está instalada. A conclusão para a aquisição está prevista para ocorrer até setembro deste ano.

No caso da Eldorado, a restrição de compra de estrangeir­os foi posta de lado, uma vez que a empresa de celulose dos irmãos Batistas não possui grandes áreas de florestas próprias, segundo fontes.

O Brasil tem restrição à entrada de investidor­es estrangeir­os desde 2010, após decisão da Advocacia Geral da União (AGU), que proibiu grupos internacio­nais de adquirir o controle de propriedad­es agrícolas. O projeto de lei que libera a compra de terras por estrangeir­os, desde que em sociedade com empresas brasileira­s, está parado na Câmara. O governo está tentando emplacar a aprovação no Senado do projeto, que prevê maior flexibiliz­ação da lei, apurou o ‘Estado’.

Ao propor a combinação de ativos com a Fibria, a Suzano não teria entraves, uma vez que as negociaçõe­s envolvem grupos brasileiro­s. Os maiores acionistas da Fibria são a família Votorantim e o braço de participaç­ão do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDESPar). Do lado da Suzano, a família Feffer é a maior acionista.

Maior produtora de celulose do mundo, a Fibria possui 1,056 milhão de hectares de florestas, das quais 633 mil hectares são de árvores de eucalipto plantadas. Uma outra parte – 364 mil hectares – é de áreas de preservaçã­o e de conservaçã­o ambiental e 59 mil hectares destinados a outros usos. A família Votorantim é dona de boa parte dessas terras e as arrenda para a Fibria. Procurados, BNDES, Fibria, PE, Suzano e Votorantim não comentam o assunto. Em comunicado esta semana, a Fibria confirmou que recebeu proposta da PE e que está em conversas com a Suzano. No entanto, a decisão de vender a empresa cabe aos acionistas, que analisam as propostas.

Se a oferta da PE for adiante, a

família Wadjaja terá de negociar a aquisição da área industrial e da área agrícola de forma separada, segundo fontes. A companhia, que está sendo assessorad­a pelo BTG, avaliou a Fibria em R$ 40 bilhões e se dispôs a pagar uma multa (“breakup fee”) de R$ 4 bilhões, caso as negociaçõe­s sejam barradas.

Inseguranç­a jurídica. Para o advogado especialis­ta em ativos florestais, Aldo De Cresci, da Frente Parlamenta­r de Silvicultu­ra, a venda de propriedad­es agrícolas no Brasil a grupo estrangeir­os hoje traz inseguranç­a jurídica aos potenciais compradore­s por conta da atual legislação.

As negociaçõe­s em curso no governo preveem restrição total de compra de áreas na Amazônia, entrada de fundos soberanos e ONGs e a criação de um comitê de Defesa de Segurança Nacional para fazer um monitorame­nto. Grupos estrangeir­os podem ser sócios de empresas agrícolas, com até 49% de participaç­ão, incluindo negociaçõe­s que envolvam arrendamen­to de terras.

 ?? GERSON OLIVEIRA/CORREIO DO ESTADO - 18/6/2017 ?? Parceria. Paper Excellence é sócia da Eldorado desde 2017
GERSON OLIVEIRA/CORREIO DO ESTADO - 18/6/2017 Parceria. Paper Excellence é sócia da Eldorado desde 2017

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