Philippe Garrel, o amor e a psicanálise
‘Amante Por Um Dia’ entra para ser um dos grandes filmes do ano
Numa entrevista por telefone, de Paris, Philippe Garrel diz algo importante sobre o novo filme, Amante Por Um Dia, que estreia nesta quinta, 15. “Como homem sou naturalmente atraído pelas mulheres, mas elas também me interessam dramaturgicamente. Só que, quando estou numa relação, não tenho distanciamento nem vontade de investigar o comportamento feminino. No filme, sim, e requisitei mulheres para trabalhar comigo no roteiro, inclusive Caroline Deruas, com quem sou casado. Seu aporte foi muito interessante.”
Amante Por Um Dia é um filme francês, com cara de filme francês. O protagonista é um intelectual, um professor, que tem um affair com uma aluna. E ocorre de sua filha ter levado o fora do namorado, e ter de morar com ele. Duas mulheres, e de idades próximas. Conversam coisas de mulheres. Com o homem maduro é (pode ser) outro. Embora tenha surgido no cinema francês pós-nouvelle vague, Philippe Garrel não deixa de ser, tardiamente, um autor da ‘nova onda’. Ele admite – “Não faço cinema referencial, para homenagear meus mestres, mas (Jean-Luc) Godard de alguma forma está sempre presente no meu cinema. Adoro seu cinema político, e o preto e branco de seus primeiros filmes, que remetem aos (irmãos) Lumière.”
Um filme de amor? “Não necessariamente. Vejo Amante Por Um Dia mais como um filme de psicanálise.” E Garrel acrescenta. “Meu cinema mudou quando comecei a trabalhar com (Jean-Claude) Carrière. Ele me colocou uma nova maneira de narrar, estruturar. E, por sua parceria com (Luis) Buñuel, traz naturalmente elementos políticos, psicanalíticos, porque o surreal pertence muito ao domínio do inconsciente.” Eric Caravaca faz o pai, o professor. Esther Garrel, filha de Philippe, é a filha. “Já filmei Louis, meu filho, e Maurice, meu pai, que talvez tenha sido minha maior influência na vida. Filmar os filhos, o pai, tem algo de documentário, que impregna a ficção.”