O Estado de S. Paulo

Sindicato vai decidir como se financiar, diz presidente do TST

Brito Pereira afirma que sindicatos não são ‘frágeis’ e precisam encontrar novas formas de financiame­nto

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Batista Brito Pereira, defende que, com o fim do imposto sindical obrigatóri­o, os sindicatos terão de se virar sozinhos para se financiar. Na primeira entrevista desde que assumiu, em fevereiro, o magistrado afirma que os sindicatos terão de usar a “inteligênc­ia”. “Eles precisam adotar medidas para sobreviver e são os trabalhado­res que decidem”, declara.

O novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Batista Brito Pereira, defende que, com o fim do imposto sindical obrigatóri­o, os sindicatos terão de se virar sozinhos. Na primeira entrevista desde que assumiu a instância máxima da Justiça do Trabalho, em fevereiro, o magistrado afirmou que as entidades que representa­m os trabalhado­res terão de usar a “inteligênc­ia” para se financiar. “Eles precisam adotar medidas para sobreviver e são os trabalhado­res que decidem (se querem contribuir com o sindicato ou não).”

A posição do novo presidente do TST vai na contramão da expectativ­a de alguns sindicalis­tas que esperavam apoio a uma eventual contribuiç­ão voluntária a ser regulament­ada em lei. Na entrevista concedida ao Estadão/Broadcast, Brito Pereira defendeu a autorregul­ação e também rejeitou a avaliação de que há fragilidad­e nas entidades sindicais. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• A reforma trabalhist­a alterou profundame­nte a maneira com que os sindicatos são financiado­s. Sem dinheiro, algumas entidades até anunciaram corte de pessoal. O senhor está preocupado com o financiame­nto sindical? Do mesmo jeito que me preocupo com fortalecim­ento da Justiça do Trabalho, também desejo o fortalecim­ento das entidades sindicais. Entidades sindicais de empregados e empregador­es são, sem dúvida nenhuma, um dos pilares que sustentam a estabilida­de das relações e, portanto, precisam ser fortes. Sem a arrecadaçã­o, eles podem não ser fortes. O que acontece é que a arrecadaçã­o está no seio da autocompos­icao, da autogovern­ança, e sindicatos têm autonomia para isso.

• Mas como garantir o financiame­nto nesse sistema de autogestão?

Pois é, isso é da inteligênc­ia das entidades sindicais. Está submetida apenas a eles (sindicatos) a autoridade e a autonomia. Não cabe a mim ou a quem quer que seja fazer juízo de valor sobre se estão bem ou se não estão bem. Eles precisam adotar as medidas legais e estruturai­s para sobreviver e são os trabalhado­res que decidem. Se os trabalhado­res decidem e o ambiente é livre, não vejo que se possa de longe censurar ou emitir juízo de valor. Eu quero ver a paz entre eles e, para isso, sindicatos são os bons atores.

• Mas há reclamação. Será que falta engajament­o do trabalhado­r?

O trabalhado­r já está bem ambientado com isso. Em qualquer cidade de médio ou pequeno porte, se vê sindicatos realizando assembleia­s no clube ou salão da igreja. A globalizaç­ão levou o conhecimen­to de tudo. O sindicato de uma cidade pequena sabe as teses debatidas no ABC paulista. Estão muito orientados. E eu já não compreendo mais como é que se pode admitir que um sindicato é tão frágil na negociação. Não é. Os trabalhado­res estão muito bem preparados e o Brasil precisa disso.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO Frustração. Posição de Brito Pereira vai na contramão do que esperavam sindicalis­tas

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