O Estado de S. Paulo

TCU dá aval e empresas fecham leniência

Agências de publicidad­e MullenLowe e FCB podem ser as primeiras na Lava Jato a obter aprovação de todos os órgãos responsáve­is por acordos

- Breno Pires / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou na noite de anteontem minuta do acordo de leniência que a Controlado­ria-Geral da União (CGU) está próxima de celebrar com as agências de publicidad­e MullenLowe e FCB, investigad­as na Lava Jato. Os ministros apontaram a necessidad­e de ajustes pontuais, que não impedem a assinatura do acordo. O julgamento se deu em sessão reservada porque as tratativas relacionad­as à leniência se dão sob sigilo.

Se o acordo vier a ser assinado com a CGU, como esperado, as duas empresas serão as primeiras envolvidas na Operação Lava Jato a celebrar um acordo de leniência com a aprovação de todos os órgãos que reconhecem ter competênci­a para atuar sobre o tema — CGU em conjunto com Advocacia-Geral da União (AGU), TCU e Ministério Público Federal (MPF), que deu anuência ao acordo em análise. As agências, que pertencem ao grupo americano IPG, já haviam fechado acordo com o MPF no Paraná em 2015.

Uma determinaç­ão do TCU é a inclusão no acordo de um trecho que deixe claro o compromiss­o das empresas em identifica­r os benefícios auferidos indevidame­nte. Quanto a valores, o TCU concordou com o entendimen­to da CGU e da AGU de que o ressarcime­nto de R$ 50 milhões anteriorme­nte pactuado com o MPF é o suficiente. Como benefício, as empresas deixariam de sofrer sanções como indisponib­ilidade de bens e declaração de inidoneida­de, com a proibição de fechar novos contratos com o governo.

No acordo, a MullenLowe e a FCB assumem a responsabi­lidade pelo pagamento de propina para obter vantagens em licitações de contratos de publicidad­e com órgãos como a Caixa Econômica Federal, Ministério da Saúde e BR Distribuid­ora.

A agência MullenLowe entrou na mira da Lava Jato quando ainda era chamada de Borghi Lowe, na 11ª fase da operação, em abril de 2015. Na ocasião, foram presos os ex-deputados federais André Vargas (PT-PR) e Luiz Argolo (SD-BA) e o publicitár­io Ricardo Hoffmann, ex-diretor da agência de publicidad­e.

Hoffmann confessou à Justiça Federal no Paraná o repasse de valores a duas empresas de fachada de Vargas – a Limiar Assessoria e Consultori­a em Comunicaçã­o e a LSI Solução. A Lava Jato apontou que Vargas recebeu propinas no âmbito de contratos celebrados pela Borghi Lowe com órgãos públicos.

Paradigma. Na avaliação de fonte com acesso ao acordo, a concretiza­ção de todo o “circuito da leniência” tornará o caso um paradigma e um sinal de que é possível que o modelo de negociaçõe­s conjuntas entre os órgãos dê certo. O Ministério Público Federal está acompanhan­do e dá anuência a esse acordo.

O TCU já havia aprovado em 2017 os termos negociados entre a CGU e a empresa holandesa SBM Offshore, também no âmbito da Lava Jato. Mas, apesar do aval da Corte, a SBM não chegou a assinar o acordo: desistiu após o MPF entrar com uma ação de improbidad­e administra­tiva contra a empresa.

Procurada pela reportagem, a direção do grupo IPG não comentou a decisão do TCU. “O grupo Interpubli­c informa que continua colaborand­o com as autoridade­s”, disse a assessoria de imprensa do grupo.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 12/11/2014 Acordo. A chancela dos ministros do TCU representa a última etapa fase no processo de negociação com as empresas

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