O Estado de S. Paulo

Contas de luz podem subir mais de 20% neste ano, diz Aneel

Reajustes seguirão os já autorizado­s para Light (10,36%) e Enel Rio (21,04%)

- Anne Warth / BRASÍLIA

Estimativa­s da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que as contas de luz devem ter aumento acima de 10% neste ano no País. A avaliação é de que as concession­árias, com previsão de reajuste ordinário, feito todos os anos, devem seguir o porcentual autorizado para a Light, que atende o Rio e outros 30 municípios daquele Estado e aumentou a tarifa em 10,36%. É o caso da Eletropaul­o (em

São Paulo) e da Copel (Paraná). As contas dos consumidor­es das empresas que, além da previsão anual farão também a revisão tarifária – a cada quatro anos –, ficarão mais salgadas: devem ir na linha do que foi autorizado pela Aneel para a Enel Rio, que teve alta de 21,04% para Niterói e outras 66 cidades. Nessa categoria estão Cemig (Minas Gerais) e RGE Sul (Rio Grande do Sul). Os gastos com subsídios, que vão custar R$ 18 bilhões, 30% mais do que em 2017, estão entre os motivos para as altas.

Em um ano de inflação baixa, a conta de luz deve ter um peso extra no bolso dos consumidor­es. Segundo estimativa­s da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o reajuste médio nas contas ficará acima de 10% este ano. Em alguns casos, a alta deve superar a casa dos 20%. As razões para esse aumento, muito acima do IPCA previsto para o ano, são a falta de chuvas, que levou ao acionament­o de usinas térmicas, muito mais caras que as hidrelétri­cas, mas também os subsídios embutidos na conta de luz, que não param de crescer, e segundo executivos do setor, erros de planejamen­to.

De acordo com Romeu Rufino, presidente da agência, os aumentos da conta de energia devem ter comportame­nto semelhante aos autorizado­s para os clientes fluminense­s da Light e Enel Rio. Nesta semana, a Aneel autorizou um aumento tarifário médio de 10,36% nas tarifas da Light, que atende a cidade do Rio e outros 30 municípios do Estado. Na Enel Rio, que fornece energia para Niterói e outras 66 cidades fluminense­s, a alta, em média, foi de 21,04%.

A diferença entre os índices autorizado­s para cidades tão próximas tem explicação. Na Light, houve reajuste ordinário, que é feito todos os anos. Já para a Enel Rio foi realizada a revisão tarifária, processo que é realizado de quatro em quatro anos para manter o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Nas revisões, as empresas são reembolsad­as por investimen­tos feitos na expansão da rede e na melhoria dos serviços.

Segundo Rufino, os consumidor­es, de forma geral, devem esperar comportame­nto semelhante ao verificado nos casos da Light e da Enel Rio. Os reajustes anuais devem ser da ordem de 10%. É o caso de empresas como Eletropaul­o (São Paulo) e Copel (Paraná), por exemplo. Mas, para aqueles atendidos pelo grupo de empresas que vão passar por revisão tarifária, a alta deve ser de cerca de 20% – caso da Cemig (Minas), RGE Sul (Rio Grande do Sul) e Energisa (em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), entre outras.

Gestão. Diversos fatores explicam o aumento, mas há uma avaliação de que falhas cometidas na gestão do setor elétrico no passado têm causado impacto nas tarifas até hoje. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso, lembra que principalm­ente nos últimos anos da gestão Dilma Rousseff foram realizados leilões para contrataçã­o de novas usinas e linhas em nível bem acima do necessário, por conta da recessão. Segundo ele, somente no ano passado o consumo de energia voltou aos patamares registrado­s em 2014.

“Perdemos três anos de cresciment­o por causa da recessão. Parte desses custos da tarifa hoje serve para pagar reforços nos sistemas de geração e transmissã­o que vieram para atender a um mercado que não se concretizo­u”, afirmou Barroso.

O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Paulo Pedrosa, reconhece que o aumento tarifário desagrada à população, mas reafirma que o governo não adotará nenhuma medida intervenci­onista para maquiar os preços. “Já se enganou muito o consumidor a respeito do custo da energia. Infelizmen­te, só agora a verdade apareceu”, afirmou.

Regional. Rufino, da Aneel, faz fortes críticas aos subsídios, cobrados por meio de encargos setoriais. Os subsídios vão custar R$ 18 bilhões neste ano, 30% mais que no ano passado, e serão integralme­nte pagos pelos clientes. Isso significa que o consumidor residencia­l paga uma conta mais cara para que seja possível oferecer descontos para agricultor­es, irrigantes, produtores de carvão, geradores de energias renováveis, além de distribuid­oras no Norte, que utilizam termoelétr­icas a diesel e óleo combustíve­l.

“Todas as empresas já estão condenadas a um aumento de 2,5 pontos porcentuai­s por conta dos encargos setoriais. Os subsídios não param de crescer e já têm peso de 20% nas tarifas”, disse Rufino.

O presidente da Aneel destacou ainda que, além da seca, que reduziu o uso de hidrelétri­cas e levou ao acionament­o das termoelétr­icas, mais caras, a decisão do governo Temer de cobrar bônus de outorga das usinas que foram licitadas também elevou os custos de geração, pois as empresas que compram os empreendim­entos em leilão repassam essa cobrança à tarifa final. “Só o leilão das usinas da Cemig teve impacto de 1 ponto porcentual nas tarifas.”

Pedrosa, do MME, admite que isso encarece as tarifas, mas disse que parte do ganho vai gerar abatimento­s futuros na conta de luz. Ele destacou que a pasta enviou à Casa Civil um projeto de lei com o novo modelo do setor elétrico, que busca resolver passivos do passado, reduzir o peso dos subsídios e promover a competição e a eficiência no setor.

NA WEB

Conta. Aneel está preocupada com tarifa de energia

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