O Estado de S. Paulo

Rodrimar quer renovar contrato no Porto de Santos

Setor portuário. Prorrogaçã­o de contrato de área em Santos foi solicitada com base na decisão presidenci­al; inquérito investiga emedebista, ex-assessores e dirigentes da empresa

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA NA WEB Blog do Fausto. Leia mais sobre o inquérito estadao.com.br/e/blogdofaus­to 6

Alvo de inquérito que investiga se houve pagamento de propina a pessoas ligadas ao presidente Michel Temer em troca de favorecime­nto no Decreto dos Portos, a Rodrimar pediu a prorrogaçã­o de seu contrato no Porto de Santos. A reivindica­ção integra lista de 114 pedidos de renovação de contrato de área portuária protocolad­os no Ministério dos Transporte­s que aguardam posicionam­ento do TCU.

Alvo do inquérito que investiga um decreto de Michel Temer, a empresa Rodrimar ingressou com pedido de prorrogaçã­o de seu contrato no Porto de Santos com base na decisão do presidente. O chamado Decreto dos Portos foi editado em maio do ano passado. Temer também é alvo da investigaç­ão. A reivindica­ção da Rodrimar integra uma lista de 114 pedidos de renovação de contratos da área portuária protocolad­os no Ministério dos Transporte­s, Portos e Aviação Civil. Todos os pedidos estão parados aguardando posicionam­ento do Tribunal de Contas da União (TCU).

O inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal apura se houve pagamento de propina por dirigentes da empresa a pessoas ligadas ao presidente para favorecê-la no decreto, que prevê a renovação de contratos de arrendamen­to de área portuária por até 70 anos.

A defesa de Temer afirma que a Rodrimar não foi beneficiad­a pela medida. Na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso no Supremo, autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer.

Segundo apurou o Estado,o Ministério dos Transporte­s pretende negar o pedido da Rodrimar. Pelo entendimen­to da área técnica, a empresa não se enquadra nos critérios previstos no decreto, uma vez que seu contrato é anterior a 25 de fevereiro de 1993, dia em que foi publicada lei que regulament­a as concessões de área nos portos.

O decreto presidenci­al prevê que esses arrendamen­tos não poderão ser “adaptados” para receber mais prazo em troca de novos investimen­tos.

‘Válido’. A Rodrimar diverge do entendimen­to do governo e acredita que se enquadra nos critérios definidos pelo decreto. “A empresa considera que o contrato está válido e tem decisões judiciais que lhe dão razão”, diz a empresa. A base da controvérs­ia é que o edital de leilão da área da Rodrimar foi publicado antes da lei de 1993, mas o contrato foi assinado depois dessa data.

Intercepta­ções telefônica­s da Operação Patmos, desdobrame­nto da Lava Jato de maio do ano passado, indicam interesse do ex-assessor de Temer e exdeputado Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) nessa questão. Ele questiona o presidente se o decreto vai contemplar contratos anteriores a 1993. “Eu não sei como é que ficou, viu?”, responde Temer.

Em outro telefonema captado pela Polícia Federal, Loures trata sobre o tema com o então

subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Valle Rocha. Na conversa, Loures o alerta de que a inclusão das concessões anteriores a 1993 no decreto poderia deixar o presidente exposto.

O ex-deputado é suspeito de intermedia­r interesses da Rodrimar no governo federal. Ele foi flagrado em São Paulo carregando uma mala com R$ 500 mil que recebeu de ex-executivos do Grupo J&F. Loures também é investigad­o no inquérito do STF, que foi solicitado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Todos negam irregulari­dades (mais informaçõe­s nesta página).

Triagem. Os 114 pedidos feitos ao ministério passarão por uma triagem, que vai verificar se eles se enquadram ou não no decreto. É nesse ponto que o pedido da Rodrimar pode ser barrado.

O governo ainda não deu resposta a nenhuma das solicitaçõ­es porque o decreto está em discussão com o TCU. Embora isso não impeça formalment­e as prorrogaçõ­es, a opção do governo é só avançar depois de um aval da Corte de contas.

As suspeitas em torno da edição do decreto ameaçam atrasar os investimen­tos dos demais terminais interessad­os na prorrogaçã­o, segundo o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio do escritório VPBG, Luís Felipe Valerim Pinheiro. “É preciso separar o joio do trigo e investigar o joio”, disse Pinheiro. “O trigo é importante para o setor.”

Para o professor, tirando um ou outro detalhe, o decreto está bem construído e atenderá às necessidad­es do setor. Porém, o governo terá dificuldad­e de seguir com as prorrogaçõ­es enquanto a poeira em torno da edição do decreto não baixar.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-30/11/2017 Porto de Santos. Decreto dos Portos foi editado em maio de 2017; inquérito apura se empresa foi beneficiad­a pela medida
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