O Estado de S. Paulo

Munição que matou Marielle foi desviada da Polícia Federal

Investigaç­ão. Perícia em cápsulas recolhidas na cena do crime apontou que balas pertenciam ao mesmo lote das encontrada­s no local da chacina na Grande São Paulo, em 2015, quando 17 morreram. Polícia Federal já abriu 50 inquéritos para apurar desvios

- Fábio Serapião Felipe Frazão / BRASÍLIA / COLABOROU MARCO ANTÔNIO CARVALHO

As balas que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, na última quarta-feira, são do mesmo lote da munição usada na chacina de Osasco, em agosto de 2015, que deixou 17 mortos. O exame das cápsulas encontrada­s no local do atentado no Rio revelou que são projéteis 9 milímetros do lote UZZ18, da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), comprado pela Polícia Federal em 2006. A polícia investiga o desvio da munição.

As munições calibre 9 milímetros usadas para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, na quarta-feira, no Rio, pertencem ao mesmo lote das balas utilizadas na maior chacina da história de São Paulo, que aconteceu em agosto de 2015 e deixou 17 mortos. A descoberta se deu ontem depois que a perícia divulgou que as cápsulas achadas na cena dos assassinat­os pertenciam ao lote UZZ18, vendido pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) à Polícia Federal em Brasília em 2006. A PF já tem cerca de 50 inquéritos para apurar desvios relacionad­os a esse lote.

O ministro extraordin­ário da Segurança Pública, Raul Jungmann, confirmou ao Estado que desvios acontecem “há vários anos” e inquéritos estão em andamento na PF para descobrir os responsáve­is. “Acredito que as cápsulas encontrada­s na cena do bárbaro crime foram efetivamen­te roubadas”, disse.

Segundo o ministro, a PF já mapeou munição desse lote roubada em uma agência dos Correios da Paraíba e, também, desviada por um escrivão da Superinten­dência da PF no Rio. No caso do escrivão, ele foi preso e exonerado.

O Estado apurou que o lote de munições comprado em 2006 é visto internamen­te como “problemáti­co” pela PF, e o ponto principal é o seu tamanho: mais de um milhão de balas. Ele foi um dos maiores já adquiridos pela corporação.

A compra foi uma das primeiras realizadas pela Polícia Federal após a regulament­ação da necessidad­e de identifica­ção do lote prevista no Estatuto do Desarmamen­to, de 2003. Por causa do tamanho do lote, essa munição foi espalhada pela PF para todas suas superinten­dências nos 26 Estados e no Distrito Federal.

Outra dificuldad­e que a PF enfrenta para descobrir quem desviou as munições para os bandidos é a falta de controle sobre o material recebido por cada policial. Com base no lote, a PF sabe apenas qual superinten­dência estadual recebeu, mas não consegue apontar quem era o policial responsáve­l por ela.

Chacina. No caso da chacina ocorrida em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, havia balas de cinco lotes, entre eles do UZZ-18. O promotor Marcelo Oliveira, que represento­u a acusação nos julgamento­s, lembrou que o Rio chegou a ser citado em um dos depoimento­s no júri, em março.

Oliveira destacou a necessidad­e de que o caminho da munição seja investigad­o. “Se essa situação do lote realmente for confirmada, é claro que há um descontrol­e muito perigoso em relação a armas e munições. E fica claro para qualquer um que a suspeita recai sobre integrante­s de forças de segurança”, disse.

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PABLO JACOB/AGÊNCIA O GLOBO Técnica. Agente da Divisão de Homicídios faz perícia em carro de vereadora

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