O Estado de S. Paulo

ALVOS DE PUTIN ATRAÍRAM ESPIÕES PARA LONDRES

A capital britânica tem agora mais agentes russos do que na Guerra Fria

- Ellen Barry THE NEW YORK TIMES TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO /

Oopositor russo Vladimir Ashurkov deu um suspiro de alívio ao fugir de Moscou para Londres em 2014. Depois de meses sendo seguido por espiões do Kremlin, no que culminou com uma invasão television­ada de seu apartament­o, ele baixou a guarda, desaparece­ndo em meio às elegantes ruas poliglotas de Kensington. Passaram-se seis meses antes de perceber que ainda estava sendo seguido.

Um velho amigo voltou de uma viagem à Rússia com notícias inquietant­es: em Moscou, as autoridade­s de segurança haviam feito perguntas detalhadas sobre uma conversa privada que ele tivera com Ashurkov em um café de Londres. Ao reconstrui­r sua vida em Londres, Ashurkov aprendeu a procurar instintiva­mente por agentes russos. “Não se pode fazer grande coisa quanto a isso. Mesmo após escapar de Moscou para Londres, você sabe que eles têm longo alcance”, disse.

A Rússia agora tem mais agentes secretos em Londres do que no auge da Guerra Fria, disseram funcionári­os da inteligênc­ia britânica. Eles têm uma variedade de funções, incluindo a criação de contatos entre os políticos britânicos. Mas a tarefa mais importante é ficar de olho nas centenas de russos – alinhados ao presidente Vladimir Putin ou contra ele – que se estabelece­ram na Grã-Bretanha, atraídos pelo mercado imobiliári­o e pelo sistema bancário. Ao longo dos últimos dez anos, a Grã-Bretanha concedeu asilo político a uma série de críticos de Putin.

O envenename­nto do ex-espião russo Serguei Skripal e a filha dele pressionar­am o governo britânico a controlar os agentes russos. As autoridade­s britânicas já dedicaram abundantes recursos para rastrear o movimento dos espiões soviéticos. Mas, nos últimos anos, as ameaças terrorista­s tornaram-se uma clara prioridade, e o MI5 está com menos recursos para acompanhar as operações em expansão da Rússia, disse John Bayliss, que trabalhou na agência britânica de inteligênc­ia eletrônica e agora dá palestras sobre ameaças à segurança.

“Acredito que há uma espécie de aceitação no fato de que há mais espiões em Londres agora do que no auge da Guerra Fria”, disse. “Nessa época, era bastante difícil para os russos se deslocarem pelo país, por isso estavam restritos aos arredores de Londres. Mas agora eles podem ir a qualquer parte. Não temos pessoal suficiente para seguir todos o tempo todo.”

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SPUTNIK / AFP Desafetos. Nos últimos dez anos, a Grã-Bretanha concedeu asilo político a uma série de críticos de Putin

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