O Estado de S. Paulo

O GÊNIO E A TAÇA QUE ELE SONHA ERGUER

Colecionad­or de recordes persegue a Copa

- Gonçalo Junior

Todos os craques têm lendas ao redor de si. Diz uma delas que Messi ficou trancado no banheiro antes de uma final infantil. O trinco emperrou. Quando percebeu que o jogo já ia começar, bateu o desespero. Ele quebrou o vidro da janela – não se sabe ao certo com o que – e saiu pelo buraco. No jogo, fez três gols e ergueu sua primeira taça.

Mais de 20 anos depois, Messi está novamente diante de um trinco teimoso. É aquele que permite abrir a porta e alcançar a Copa do Mundo. Ele nunca teve esse gostinho. O jogador eleito cinco vezes o melhor do planeta jamais levantou um troféu pelo seu país. É um asterisco em toda sua trajetória como gênio do futebol.

No Brasil, esteve próximo. Foi demolindo rivais – quase sempre pelo placar mínimo – até a final no Maracanã em 2014. Foi vice-campeão. A fotografia de seu olhar de cobiça e desesperan­ça para o troféu máximo – tão perto e tão longe – nas tribunas do estádio se tornou imagem marcante.

Em 2010, o time era meio bagunçado porque Maradona pensou que seu carisma poderia substituir um esquema tático. Agora, é na Rússia. Aos 30 anos, Messi provavelme­nte disputará mais um Mundial (o de 2022), mas a ampulheta do seu sonho está nos últimos grãos de areia. O drama do craque argentino está emoldurado pela angústia de uma nação inteira, que não conquista nada no futebol mundial há 25 anos.

O último troféu da Argentina foi o da Copa América de 93, quando o time tinha, por exemplo, Simeone, hoje técnico do Atlético de Madrid. Messi não tem culpa direta nisso. Ou tem. Em poucos momentos, levou à seleção a presença mítica e mística que tem no Barcelona.

Como nas temporadas passadas, Messi está voando. Eliminou o Chelsea com seu 100.º gol na Liga dos Campeões e sobra no Campeonato Espanhol. Hoje, ele realiza com maestria o conselho que Salvador Aparício, primeiro técnico da sua vida, lhe deu ainda na infância: “toca a bola”. Ele é o líder de assistênci­as do torneio, com 15 passes.

Quando era pequeno, pegava a pelota em seu campo e só parava no gol. Até hoje, os dirigentes do River Plate e do Newell’s Old Boys devem lamentar o “não” que deram para custear o tratamento hormonal que Messi precisava fazer para crescer. Eram US$ 1.500 por mês. O Barcelona pagou. Diz a lenda – mais uma – que ele quase desistiu do teste porque teve de aguardar duas semanas até a volta do treinador Carles Rexach de uma viagem. O ano era 2000.

No final do treino, o técnico escreveu em um guardanapo que cuidaria de Messi. Era seu primeiro contrato. Mas o mito começou a ganhar corpo nove anos depois quando Pep Guardiola decidiu abrir mais espaço para “as crianças” – como ele dizia – da base, como Pedro e Busquets. Foi aí que Lionel virou Messi. De lá para cá, os números traçam sua biografia e precisam ser atualizado­s a cada rodada, não dá para contar numa página, e os prêmios viraram rotina. Mas ainda falta abrir um trinco.

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Obsessão. Messi tem como meta dar título à Argentina

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