O Estado de S. Paulo

Receita vai atrás de R$ 2,5 bi de fraudes decorrente­s da desoneraçã­o da folha

Ajuste. De acordo com o Fisco, política iniciada em 2011 tornou mais difícil a fiscalizaç­ão, porque muitas vezes uma mesma empresa convive com duas formas de tributação diferente; governo tenta no Congresso reverter a desoneraçã­o, mas projeto foi desidrat

- Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

Enquanto o governo tenta reverter no Congresso a desoneraçã­o da folha de pagamentos para 50 setores – uma forma de melhorar a arrecadaçã­o e fortalecer o caixa –, a Receita Federal busca recuperar quase R$ 2,5 bilhões em sonegação referente à contribuiç­ão previdenci­ária devida por empresas optantes desse sistema.

“A legislação ficou um horror e há problemas em todos os setores beneficiad­os. Com a desoneraçã­o, o regime ficou complexo para o contribuin­te demonstrar as informaçõe­s e ainda mais difícil para a Receita auditá-las”, afirmou ao Estadão/Broadcast o subsecretá­rio de fiscalizaç­ão da Receita, Iágaro Jung Martins.

A política de desoneraçã­o da folha começou em 2011, no governo Dilma Rousseff, com o objetivo de estimular a geração de empregos e melhorar a competitiv­idade das empresas. O benefício se dá por meio da substituiç­ão da cobrança de uma contribuiç­ão previdenci­ária de 20% sobre a folha de pagamento das empresas por um porcentual sobre o faturament­o. A alíquota varia de 1% e 4,5%, dependendo do setor.

De acordo com dados do Fisco, as autuações já realizadas em empresas que burlaram o regime somam R$ 450 milhões. Além disso, o órgão espera concluir neste ano as investigaç­ões de irregulari­dades que devem levar a outros R$ 2 bilhões sonegados apenas no ano de 2015. A conclusão dos procedimen­tos é defasada porque as empresas têm um tempo para fazerem ajustes nas suas declaraçõe­s.

No ano passado, o Fisco realizou 6.878 procedimen­tos de autuação pelo não recolhimen­to da contribuiç­ão previdenci­ária de vários anos e, segundo Martins, mais da metade dos casos está relacionad­a com a desoneraçã­o da folha.

De acordo com o subsecretá­rio, como o benefício foi sendo ampliado para abarcar cada vez mais segmentos, existem muitos casos nos quais uma mesma empresa acaba tendo de apurar o imposto devido usando duas sistemátic­as diferentes, o que amplia as brechas para a sonegação. “O mesmo funcionári­o, ora trabalha com um produto cuja contribuiç­ão previdenci­ária é calculada com base na folha de salários, ora trabalha com um produto que recolhe pelo faturament­o”, explicou.

Como o Estadão/Broadcast informou esta semana, a equipe econômica esperava arrecadar, anualmente, R$ 8,8 bilhões com a redução da política criada na gestão de Dilma Rousseff, mas o valor caiu para R$ 3 bilhões por ano depois das alterações feitas pelo relator Orlando Silva (PCdoB-SP), que manteve o benefício para 15 setores. O Ministério da Fazenda tenta reverter as alterações no texto, que ainda não foi votado pela Câmara dos Deputados e também ainda terá de passar pelo Senado.

Na avaliação de Martins, a manutenção de mais setores na desoneraçã­o significar­á que o órgão continuará lutando contra a sonegação de recursos que deveriam ajudar a cobrir o crescente déficit da Previdênci­a Social.

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