Endividamento não é um sinal ruim
O aumento do endividamento das famílias paulistanas, apurado em levantamento recente da FecomercioSP, não deve ser visto, por enquanto, como fator de preocupação. Mais importante parece ser o fato de que as pessoas voltam a tomar dívidas com o objetivo de ampliar o consumo, o que se explica por fatores positivos como a melhora do poder de compra dos salários em decorrência da inflação baixa e mais confiança dos consumidores em relação ao emprego.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da FecomercioSP revelou que 53,6% das famílias tinham algum tipo de endividamento em fevereiro de 2018. O porcentual é semelhante ao de janeiro e 5,1 pontos porcentuais superior ao de fevereiro de 2017, o que significou que mais 214 mil famílias se endividaram e que há 2,09 milhões de endividados. As famílias com renda inferior a 10 salários mínimos são as que apresentam maior proporção entre as endividadas (57,9%).
A taxa de inadimplência também cresceu, passando de 17,8% em janeiro para 18,3% em fevereiro. A alta foi de 1,8 ponto porcentual em relação a fevereiro de 2017. O número de famílias que não conseguiram quitar em dia as dívidas é expressivo – 713 mil –, mas só 7,7% afirmam que não conseguirão quitar as dívidas em atraso no mês seguinte ao do vencimento.
O endividamento seria mais preocupante não fosse usual o emprego de mecanismos de renegociação, inclusive online, de compromissos em atraso com bancos, lojas ou concessionárias de serviços públicos (caso de telefonia e eletricidade). É o que mostra pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Nada menos de 36% dos inadimplentes fizeram acordos com o credor nos últimos 12 meses, evitando o ônus de ter o “nome sujo” e se ver impedidos de ter conta em banco e cartão de crédito ou de fazer crediário.
O aspecto mais negativo na pesquisa da FecomercioSP é que o cartão de crédito, com seu custo exorbitante, é o principal fator de endividamento (74,4%), seguido por carnês (14,5%), financiamento de veículos (12,5%) e financiamentos da moradia (10%). Afinal, melhor do que ter de renegociar as dívidas seria fazer um planejamento cuidadoso do orçamento familiar, evitando operações de altíssimo custo.