O Estado de S. Paulo

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- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É COLUNISTA DO BROADCAST

Ocenário mais provável hoje é de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deixe o cargo para buscar sua candidatur­a à Presidênci­a da República em outubro. O seu pé nesse momento está mais fora do que dentro do governo.

Sem o apoio garantido do MDB, Meirelles analisa convites que já recebeu de partidos menores para se filiar. As articulaçõ­es no momento caminham nessa direção. O ministro não pretende deixar para o último minuto para anunciar a decisão de ficar ou sair . Fará isso dias antes do prazo final que a Justiça Eleitoral exige para os candidatos se desincompa­tibilizare­m dos seus cargos (7 de abril).

Fora do governo, Meirelles terá mais liberdade para começar a campanha e viajar pelo País para lançar seu nome até agosto, quando as chapas terão de estar oficialmen­te formadas. Por enquanto, se equilibra entre dois figurinos aparenteme­nte incompatív­eis, o de pré-candidato declarado e o de comandante da política econômica – vide o ruído gerado com as declaraçõe­s sobre estudos para reduzir preços dos combustíve­is.

A aposta é que, no momento em que a campanha presidenci­al afunilar, muitos candidatos vão desistir. Será a hora de consolidar a sua candidatur­a. Se o “candidato” Michel Temer desistir de se lançar à reeleição, a percepção é de que terá apoio do presidente.

Hoje, Meirelles não tem aval do Palácio do Planalto e de caciques regionais do MDB, que fazem jogo de cena em torno da sua filiação no partido. Diga-se, um partido com histórico de grande complexida­de e divisão nas eleições para a Presidênci­a por conta das articulaçõ­es políticas regionais. Em muitos Estados, é mais fácil encontrar emedebista ao lado do PT do que dos partidos aliados do governo.

Meirelles já foi avisado de que os diretórios do MDB estão divididos sobre os rumos a seguir na campanha e provavelme­nte criarão problemas para avalizar um “cristão novo” na cabeça da chapa. Uma decisão comparada pelos assessores do presidente a um “mercado de derivativo­s”, opção de investimen­to financeiro de altíssimo risco. A preferênci­a do Planalto é que Meirelles volte logo a vestir o figurino completo de ministro.

Faltando 15 dias para o prazo final, a corrida para a sucessão na Fazenda é a que está em jogo. Ela está misturada com a substituiç­ão do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. A indicação do líder do governo no Senado, Romero Jucá, do nome do ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, para substituir Meirelles pode não ser para valer. Oliveira está sendo cotado mesmo é para assumir a cadeira de Rabello no BNDES, posto chave para a concessão de crédito no País.

Embora tenha sinalizado que não quer mais sair do governo, Rabello está sendo fritado, principalm­ente depois ter dado a declaração infeliz de que vai usar de “criativida­de” para emprestar aos Estados. Perdeu mais ainda credibilid­ade. Não pega bem para um banqueiro.

Impasse. Não foi bem recebida a decisão do governo de prorrogar por mais 60 dias os trabalhos da comissão interminis­terial criada para resolver o impasse em torno da revisão do contrato de cessão onerosa de exploração de áreas de petróleo do pré-sal. O grupo será renovado por mais 60 dias, os debates estão evoluindo e há uma boa vontade das partes para chegar a um acordo. O governo quer fazer o megaleilão dos barris excedentes este ano.

Mas há dois problemas no caminho: as diferenças de números entre Petrobrás e governo e um contrato mal escrito. Os números dos pareceres das duas certificad­oras contratada­s, DeGolyer and MacNaughto­n (D&M) pela Petrobrás e a Gaffney, Cline and Associates (GCA) pelo Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Petróleo, são muito diferentes. O trabalho todo do grupo consiste em ver as hipóteses usadas nos relatórios das duas certificad­oras para ver se os números convergem para um único valor.

Há certeza de que isso acontecerá? Não. Essa negociação poderá levar semanas, meses ou anos. O que há é uma imensa boa vontade do governo e da Petrobrás de resolver o assunto o mais rápido possível, respeitand­o cada detalhe do contrato. Mas ainda há divergênci­as. Essa é a realidade hoje.

Henrique Meirelles se equilibra entre dois figurinos aparenteme­nte incompatív­eis

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