O Estado de S. Paulo

‘Onda protecioni­sta tende a ser esporádica’

Para economista, países evitarão retaliar EUA porque medidas de proteção elevam preços no mercado doméstico

- Luciana Dyniewicz

A sobretaxa que será implementa­da nos Estados Unidos, a partir da próxima sexta-feira, na importação de aço e alumínio não deve desencadea­r uma guerra comercial, na avaliação do economista-chefe do Santander, Mauricio Molan. Para ele, mesmo que os países tentam aplicar medidas de retaliação, historicam­ente esses movimentos protecioni­stas não costumam ser duradouros. “A visão que persiste é a que a abertura favorece mais as economias”, afirma. “Medida (protecioni­sta) é contraprod­ucente.” No Brasil, diz Molan, a política de Donald Trump deve afetar apenas o setor exportador de aço, responsáve­l por 1% dos embarques do País. “A economia brasileira é muito maior do que esse segmento”. A seguir, trechos da entrevista.

Uma guerra comercial é iminente?

A probabilid­ade é baixa. Esse tipo de medida (sobretaxaç­ão de importação) é contraprod­ucente para o próprio país que a adota: eleva os preços internos e piora a competitiv­idade. Reduz o bem estar menor da sociedade e beneficia apenas um setor específico. Esse tipo de medida não deve se espalhar.

Os outros países não podem responder ao Trump com medidas retaliatór­ias?

Alguns países podem tentar. Isso levaria a um fechamento maior das economias, mas todas as medidas de retaliação que começam a ser cogitadas são pouco relevantes. A história mostra que movimentos (protecioni­stas) tendem a ser esporádico­s e que, no longo prazo, persiste a visão de que a abertura favorece mais as economias. Por exemplo, o maior prejudicad­o das medidas relacionad­as ao aço será a indústria automobilí­stica americana. O preço do aço aumentará no mercado domestico.

Para o Brasil, qual o impacto? O Brasil exporta algo como US$ 2 bilhões em aço para os EUA. Então pode ter um impacto nas exportaçõe­s, que são ao redor de US$ 200 bilhões. Mas é um impacto que tende a ser concentrad­o no segmento. Pode haver redução de preço de ações (das empresas do setor), mas de forma geral não é algo que ameace o cenário macro. A economia brasileira é muito maior do que o segmento de exportação de aço.

Falando em Brasil, o PIB do País cresceu 1% em 2017, puxado pelo agronegóci­o e pelo consumo alavancado pela liberação do FGTS. Diante disso, dá pra dizer que existe uma trajetória sólida de recuperaçã­o?

Sim. A hora que a gente vê o filme, ele é bem melhor que a foto. A recuperaçã­o de investimen­tos foi bastante importante no fim de 2017. O consumo está crescendo e a expansão industrial se consolidou no segundo semestre. Para 2018, a situação é ainda melhor. Projetamos cresciment­o de 3,2%.

Para 2018, vocês têm um cenário claro. Para 2019, as eleições tornaram as projeções mais incertas?

A gente se baseia na hipótese de que o cresciment­o econômico (de 2017 e 2018) vai levar a um apoio por parte dos eleitores a propostas reformista­s, a um projeto que seja consistent­e com ajuste fiscal, controle de inflação e baixo nível de intervençã­o do governo, que foram os ingredient­es para a retomada. Por isso, temos uma projeção também favorável para 2019, de novo de 3,2%.

O cresciment­o do PIB até agora não é muito baixo e o desemprego alto para o eleitor sentir uma diferença e acreditar nessa proposta reformista?

Em termos de números, sim, o cresciment­o foi pequeno. Mas temos o componente de expectativ­as. O otimismo já melhorou bastante. Outra coisa é que, no segundo trimestre de 2018, os números de cresciment­o vão ser mais favoráveis do que os que estamos vendo agora.

Tendência

“A história mostra que movimentos (protecioni­stas) tendem a ser esporádico­s e que, no longo prazo, persiste a visão de que a abertura favorece mais as economias.”

“O impacto (da sobretaxaç­ão anunciada pelos EUA) tende a ser concentrad­o no segmento, não é algo que ameace o cenário macro. A economia brasileira é muito maior do que o segmento de exportação de aço.”

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO PIB. Molan prevê alta de 3,2% em 2018 e 3,2% em 2019

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