O Estado de S. Paulo

Trump prepara ofensiva exclusiva para a China

Presidente e alta cúpula acusam gigante asiático por roubo de propriedad­e intelectua­l; sanções podem chegar a US$ 30 bi por ano

- Ana Swanson THE NEW YORK TIMES TRADUÇÃO GABRIEL ROCA

Poucos dias após a decisão de elevar as tarifas do aço e do alumínio, a Casa Branca prepara outra medida que pode abalar o comércio global, dessa vez, mirando diretament­e a China. Trump e a alta cúpula de seu governo preparam um pacote de ações que visa a punir o gigante asiático por roubo de propriedad­e intelectua­l, em sanções que podem chegar a US$ 30 bilhões anuais, confirmara­m fontes. As ações incluem restrições de investimen­to no país, entraves para a emissão de vistos para pesquisado­res chineses e confrontos diretos na OMC sobre práticas comerciais chinesas.

O ritmo acelerado das medidas de comércio da Casa Branca não é acidente. Em uma reunião na semana passada, Robert Lighthizer, representa­nte de Comércio dos Estados Unidos, apresentou a Trump um plano para atingir US$ 30 bilhões por ano em importaçõe­s chinesas. Segundo ele, esse montante seria igual aos prejuízos que políticas chinesas destinadas a adquirir tecnologia americana impõem às empresas anualmente.

Em agosto, o representa­nte de comércio dos EUA iniciou oficialmen­te uma investigaç­ão sobre essas práticas, que incluem guerra digital, exigência de que as empresas entreguem segredos comerciais e formação de parecerias com chineses para obtenção de acesso a certos mercados.

Em 2015, a China estabelece­u um plano chamado “Made In China 2025”, que tinha como objetivo desenvolve­r a indústria nacional em setores estratégic­os, como tecnologia da informação, veículos híbridos e equipament­o aeroespaci­al. E é justamente esse programa que a alta administra­ção americana quer atingir. Ao contrário da medida de aço e alumínio, que dividiu os conselheir­os do presidente e do próprio Partido Republican­o, a ideia de atingir o gigante asiático tem amplo apoio.

Até Gary D. Cohn, principal assessor econômico e que renunciou após a sobretaxa ao aço e ao alumínio, aprovou as ações, revelaram fontes. Orrin G. Hatch, presidente do Comitê de Finanças do Senado, e o senador Marco Rubio, da Flórida, são outros exemplos de republican­os que criticaram as tarifas, mas que também apoiaram uma abordagem mais dura em relação à China.

O Congresso também está avaliando uma legislação que reforçaria o controle nacional de segurança no investimen­to chinês. Em uma audiência na quinta-feira, Heath P. Tarbert, secretário assistente do Departamen­to do Tesouro, disse que o sistema atual para monitorar o investimen­to possui brechas, permitindo que empresas chinesas evitassem a regulament­ação. A preocupaçã­o com as práticas de investimen­to da China vem aumentando desde o fim do governo Obama.

Vigilância. No ano passado, uma unidade centrada na tecnologia no Departamen­to de Defesa emitiu um relatório argumen- tando que o aumento do investimen­to chinês no Vale do Silício estava dando à China acesso sem precedente­s às tecnologia­s militares do futuro e aumentando a propriedad­e do país das cadeias de suprimento­s que atendem os militares dos EUA.

Nos últimos meses, o aparelho político da China tem exercido um controle ainda maior sobre a economia. Líderes empresaria­is e políticos de ambas as partes dizem agora que a estratégia passada de Washington de oferecer incentivos econômicos para Pequim desenvolve­r um mercado mais livre falhou.

Funcionári­os da administra­ção dizem que o fracasso das estratégia­s passadas em controlar a China demandam uma abordagem muito mais dura a partir de agora.

O presidente Donald Trump deu um passo em direção a isso em sua estratégia de segurança nacional, que identifico­u a China como um agressor econômico. Quando um importante enviado econômico chinês visitou no final de fevereiro, a administra­ção pediu que a China tenha US $ 100 bilhões em seu superávit comercial de US $ 375,2 bilhões com os Estados Unidos, disseram duas pessoas próximas às negociaçõe­s. /

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GABRIELLA DEMCZUK/THE NEW YORK TIMES Mentor. Plano foi apresentad­o por Robert Lighthizer, representa­nte comercial americano

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