O Estado de S. Paulo

Integrante­s do Cade veem compra como ‘complexa’

- / LORENNA RODRIGUES, EDUARDO LAGUNA E FABIANA HOLTZ

A compra da Fibria pela Suzano é vista como complexa por integrante­s do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) ouvidos pelo Estadão/Broadcast sob a condição de anonimato. Um integrante do conselho disse que a operação representa­rá um “desafio” para o órgão.

O caso ainda não foi notificado ao conselho, que terá 240 dias, prorrogáve­is por mais 90, para analisar a fusão. Advogados que atuam na área também disseram à reportagem que a operação certamente será analisada com lupa e dificilmen­te seria aprovada sem nenhuma restrição pelo órgão antitruste.

O veto ou a imposição de fortes restrições ao negócio é uma preocupaçã­o das empresas, tanto que o próprio acordo firmado entre elas prevê o pagamento pela Suzano de uma taxa de R$ 750 milhões caso a fusão não possa ser concretiza­da, por exemplo, por imposição de autoridade­s antitruste­s.

No mês passado, o Cade barrou a compra da Liquigás, detida pela Petrobrás, pela Ultragaz. Com isso, o grupo Ultra teve que pagar uma “break-up fee” (multa) de R$ 280 milhões à estatal, até então a maior já paga no Brasil. Em 2017, o órgão também vetou a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga, a do grupo de educação Estácio pela Kroton e a aquisição da Mataboi pelo grupo JBJ.

Celulose. Para a advogada especialis­ta em concorrênc­ia Patrícia Agra, as análises do Cade envolvendo o setor de celulose no passado entenderam que o mercado era muito concentrad­o e com muitas barreiras à entrada, como, por exemplo, a restrição a estrangeir­os comprarem terras no Brasil.

No entanto, as operações foram aprovadas porque o conselho acreditou que havia rivalidade entre grandes grupos econômicos com muita expertise nesse mercado, o que garantia a concorrênc­ia no mercado. “Nesse caso, são duas gigantes que disputavam entre si. A análise do Cade vai se concentrar no impacto da operação nessa questão, no nível da rivalidade após a fusão”, explicou.

Em entrevista coletiva, o presidente da Suzano, Walter Schalka, procurou minimizar a possibilid­ade de a aquisição da Fibria, anunciada hoje, venha a enfrentar restrições de órgãos antitruste­s.

Ao tentar afastar a ideia de que a combinação das empresas poderá fortalecer o poder de influência do grupo na dinâmica internacio­nal de preços, o executivo afirmou que a companhia continuará sujeita às forças de oferta e demanda que levaram à “grave volatilida­de’ nos preços internacio­nais da celulose nos últimos anos. Também pontuou que a participaç­ão de mercado da Suzano seguirá baixa se considerad­as as fibras de diversas origens e assinalou que a empresa enfrenta grandes competidor­es nos mercados chinês, europeu e americano, de forma que espera concluir a operação sem ter que vender um ativo sequer.

“Não entendemos que seja necessário vender ativos para aprovação. Vendemos commoditie­s que múltiplos players fabricam em condição adequada”, declarou Schalka .

“Não entendemos que seja necessário vender ativos. Vendemos commoditie­s que múltiplos players fabricam.” Walter Schalka

PRESIDENTE DA SUZANO

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