Massacre e bullying inspiram ‘Punk Rock’
Preparação de alunos para o vestibular abre discussão sobre violência e a ocupação dos secundaristas no Brasil
Apesar de não ser totalmente original e ter influências de obras como a série Skins, os filmes The History Boys, Elephant, e o livro Apanhador no Campo de Centeio, a peça Punk Rock, do autor britânico Simon Stephens, tem feito sucesso desde 2009, quando estreou no Reino Unido, e já foi montada na Nova Zelândia, Austrália, EUA, Espanha e Canadá. Na versão brasileira que estreou na sexta, 16, no Centro Cultural São Paulo, o drama de jovens secundaristas em fase de vestibular perde para um massacre escolar com cores de Columbine.
A empreitada dos codiretores Ruy Cortez e Ondina Cais tem histórico. “Quando encontramos o texto, passamos a estudar temas e obras relacionadas com a peça”, afirma Cortez sobre a preparação de dois anos com os jovens alunos de uma oficina de atores.
O perfil das personagens alcança os estereótipos, como o nerd, o novato, a menina ingênua, o jovem de família humilde e o que sofre bullying. Serão os conflitos da juventude e a iminente tragédia que vão colocálos em movimento. “O texto não criminaliza ou tenta justificar a razão do massacre, como se o assassino tivesse de se comportar estranhamente para que suas ações sejam entendidas. Pelo contrário, ele faz parte do dia a dia da escola”, afirma Ondina. Para Cortez, a peça apresenta uma espectro de ideologias políticas, no perfil de cada jovem. “É possível entendê-los a partir de suas opiniões e comportamentos, desde os conservadores, os sociais, democratas, até os extremistas e anarquistas.”
Se a realidade de massacres em escolas brasileiras remonta ao de Realengo, que deixou 13 mortos, e o de Goiânia, em 2017, os diretores não deixaram de discutir a recente ocupação dos secundaristas em São Paulo e mais 22 Estados, em 2016, que teve mais de 1 mil escolas tomadas pela chamada Primavera Secundarista. “Acredito que essa onda acabou mobilizando outras frentes”, afirma Ondina. “No início, o movimento até foi considerado algo passageiro, mas o engajamento dos jovens se espalhou pelo Brasil ao reafirmar o absurdo de que o lugar de estudante é na escola. Hoje, vemos que os movimentos feministas ganharam força com essa iniciativa.”
O projeto da dupla é parte de um conjunto de montagens iniciado com K.I (2017), sobre Katierina Ivánovna, personagem de Irmãos Karamazov, e mais outros três espetáculos com foco em personagens femininas.