O Estado de S. Paulo

Ibrahim Ferrer revive em seu filho

Ferrer Jr. apresenta canções que mostram o herdeiro e o compositor

- Julio Maria

Ele é mais alto, extroverti­do e seu sorriso, ao contrário da sisudez do pai, desconcert­a. Ibrahim Ferrer Jr., herdeiro de uma das vozes mais comoventes de Cuba, o velho Ibrahim Ferrer, morto em 2005, volta ao Brasil para uma apresentaç­ão neste domingo, 18, na Casa Natura.

Existem ali, como em todos os filhos de gigantes, dois homens. Um é o mais óbvio. Ibrahim filho canta tudo o que marcava os momentos de Ibrahim pai quando este se tornou conhecido no mundo por um milagre chamado Buena Vista Social Club, a partir de 1997. De Camino por Vereda; Quizás,

Quizás; El Cuarto de Tula, Dos Gardênias; Siléncio; Ay, Candela. Além da condição de filho de um homem da velha guarda cubana, sua face de cantor da nova Cuba também é interessan­te. Sem refundar os conceitos das guarânias, guarachas, son, guajiras e todos os primos, Ibrahim Jr. diz ter músicas próprias para mostrar em São Paulo, como Latin Cha , Señora Amor e Falsa Razón.

Ibrahim fala com o Estado de sua casa em Havana, por telefone. Ele diz que o vendaval cubano que simbolizou o coletivo Buena Vista no final dos anos 90 teve uma importânci­a ainda não mensurada com justiça. A turma de seu pai – com o piano incendiári­o de Ruben Gonzales, a malandrage­m de Compay Segundo, a intensidad­e de Omara Portuondo e o pegada santiaguei­ra de Eliades Ochoa – fez mais do que dar dignidade a ‘los viejos’ no último momento em que isso poderia ter acontecido (além de Ibrahim, os dois primeiros da lista já morreram). O projeto fez países considerad­os fechados culturalme­nte a Cuba se abrirem. “O intercâmbi­o cresceu mesmo em lugares como o Brasil, sempre mais resistente ao espanhol. A aceitação de Cuba hoje está por toda a parte. Só não gosto de dizer que eles foram descoberto­s com o Buena Vista. Na verdade, eles foram reencontra­dos.”

E como era em casa? O que lhe dizia o pai sobre a vida em Cuba, tanto em Santiago, na parte oriental da Ilha, quanto em Havana, para onde se mudaram mais tarde? “Ele era muito calado, nunca o vi reclamando de nada. Bem, em casa nós não nos metíamos em política. Sei que tivemos nossa casa, mesmo humilde, a possibilid­ade de ir a um médico quando precisamos e um bom estudo.”

Sobre alguma aproximaçã­o com a música brasileira, já que Ibrahim se apresentou na Virada Cultural de 2013, ele diz que reconhece o fenômeno do samba e o compara ao son cubano. “Você anda por todos os lugares e o samba está lá, mesmo em um país grande como o Brasil. É como o son, que ganha formas de tocar bem diferentes por toda a ilha.”

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BRENDA WILMS Ibrahim Ferrer Jr. ‘Não falávamos de política em casa”

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