O Estado de S. Paulo

Temer decide disputar a reeleição e avisa aliados

Presidente afirmou a interlocut­ores estar disposto a defender legado na campanha e buscar novo mandato

- Marcelo de Moraes

O presidente Michel Temer afirmou a pelo menos três interlocut­ores estar decidido a buscar em outubro um novo mandato, informa o BR18, novo site de notícias do Grupo Estado com foco na eleição. Apesar da elevada rejeição apontada nas pesquisas, Temer entende que ninguém melhor do que ele será capaz de defender seu legado. Assessores entusiasta­s da reeleição avaliam que a recuperaçã­o da economia e outras medidas que o governo pretende adotar até o final deste atual mandato podem alavancar seus índices de aprovação. A tendência dentro do Planalto é de que essa decisão por enquanto não seja anunciada em caráter oficial porque, conforme a legislação, o presidente pode concorrer à reeleição sem ser obrigado a deixar o cargo em abril, como acontece, por exemplo, com governador­es e ministros. Com isso, evita também a politizaçã­o das futuras ações de seu governo.

O presidente Michel Temer já começou a avisar seus principais interlocut­ores que está disposto a disputar a reeleição presidenci­al, informa o BR18, novo site de notícias do Grupo Estado. Apesar dos baixos índices de aprovação do seu governo – 6% segundo o último levantamen­to do Instituto Ibope –, o presidente acha que ninguém melhor do que ele será capaz de defender seu legado e sua própria honra. Mesmo sabendo que esse patamar de popularida­de é um obstáculo pesado para sua candidatur­a, Temer acha que poderá melhorar de situação com a confirmaçã­o da recuperaçã­o da economia e com outras medidas que pretende adotar até o final de seu mandato.

Temer não tem a pressão do calendário eleitoral, já que pela legislação ele não precisa deixar o cargo até abril para concorrer – como acontece, por exemplo, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Este precisa, obrigatori­amente, deixar a pasta nos próximos dias se quiser concorrer ao Planalto. Por isso, Temer não tem pressa – pode decidir até julho – e vai esticar ao máximo o anúncio oficial de sua candidatur­a. Com isso, evita também a politizaçã­o de todas as futuras ações de seu governo.

Quando assumiu o governo, Temer se compromete­u com os partidos aliados a não tentar uma eventual reeleição em troca da sustentaçã­o política. O problema é que o quadro que havia em 2016 mudou radicalmen­te, na sua avaliação. O senador tucano Aécio Neves (MG), que poderia ser um candidato em potencial em 2018, saiu do páreo depois das investigaç­ões abertas a partir do escândalo da J&F. Além disso, depois de ser central na formação do primeiro escalão de Temer, o PSDB passou a adotar tom crítico e se afastou do governo federal.

Alckmin. Temer também se considerou liberado de qualquer compromiss­os formal com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, depois de avaliar que o pré-candidato tucano não fez força para impedir que a bancada paulista do PSDB votasse a favor dos pedidos de seu afastament­o.

A relação também mudou com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que também já se lançou pré-candidato ao Planalto, com o discurso de afastament­o do governo e afirmando que não defenderia o legado de Temer. É esta a mensagem que Maia tem apresentad­o na maratona de viagens pelo País iniciada na sexta-feira passada. Com a relação mudada, Temer se sente liberado para não manter a promessa e tentar se viabilizar para buscar um novo mandato.

O grande desafio, porém, é que Temer sabe que sua baixa popularida­de faz com que vários de seus aliados, dentro do MDB, preferisse­m que ele cumprisse apenas seu mandato até o fim e liberasse o partido para tomar outros rumos.

Em vários Estados, como Ceará, Alagoas e Goiás, o MDB deve fechar alianças regionais com o PT, que hoje é o principal opositor ao Planalto. Além disso, uma recuperaçã­o da economia mais lenta do que o esperado pode frustrar de vez os planos do presidente e convencêlo a desistir da empreitada.

Alternativ­a. Se ficar convencido de sua inviabilid­ade, Temer fará o movimento na direção de outro nome, como o do ministro Henrique Meirelles. Mesmo que não se filie ao MDB, mas sim a outra legenda, Meirelles seria uma boa alternativ­a na visão do presidente.

Alguns fatores fizeram com que o presidente se motivasse a tentar um novo mandato. Quer defender sua biografia pessoal e profission­al. Acha que na campanha poderá mostrar que conduziu o País para a recuperaçã­o econômica num dos momentos mais graves de nossa história. Também quer rebater os ataques pessoais que vêm sofrendo – e que considera injustos. Fora da corrida pelo Planalto, Temer sabe que perderá protagonis­mo político, já que não representa­rá mais perspectiv­a de poder. Como candidato, esse prazo de validade se amplia.

Segurança. Para se fortalecer, Temer já tem tomado medidas de apelo popular. Assumiu o discurso da segurança pública, com a decisão de autorizar a intervençã­o nessa área no Rio, anunciada em fevereiro. Sem conseguir apoio no Congresso, também deixou de lado a desgastant­e proposta de reforma previdenci­ária. E, agora, já sinaliza com a possibilid­ade de aumentar o valor do Bolsa Família, mirando diretament­e na camada mais pobre da população.

Durante seu mandato, ele foi denunciado duas vezes pela Procurador­ia Geral da República, com base nas delações de executivos da JBS, mas as denúncias foram derrubadas em votação no plenário da Câmara.

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