O Estado de S. Paulo

Bilhete aéreo não cai com mala cobrada

Empresas afirmavam que cobrança no despacho das malas cortaria tarifa, mas agora dizem que item é só um dos componente­s do preço

- Fernando Nakagawa /

A cobrança da bagagem nas viagens aéreas ainda não trouxe benefício claro aos passageiro­s. Das dez rotas mais movimentad­as do Brasil, seis tiveram aumento ou estabilida­de no preço médio pago pelos consumidor­es e quatro ficaram mais baratas nos primeiros meses da regra.

Embora as companhias defendesse­m que a mudança resultaria na queda do preço da passagem, agora argumentam que a bagagem é só um fator sobre o preço e outros aspectos – como combustíve­l, oferta e demanda – são mais relevantes.

O fim da franquia gratuita da bagagem entrou em vigor depois de reações negativas dos consumidor­es e decisões contrárias da Justiça. Após disputa jurídica, os primeiros passageiro­s sem franquia de bagagem

voaram em meados de 2017 e, desde setembro, as quatro maiores empresas – Avianca, Azul, Gol e Latam – praticam a política.

O preço das passagens nas principais rotas domésticas, desde então, não seguiu tendência única na comparação com igual período de 2016. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que, entre as dez rotas, três tiveram alta expressiva do preço e quatro ficaram bem próximas da inflação.

A ida e volta entre Guarulhos e Curitiba teve o maior aumento: 31,2% em novembro ante um ano antes. Longe da polêmica das bagagens, a alta pode ter relação com a menor disponibil­idade de voos: o volume de assentos vendidos caiu mais de 40%. Com isso, a demanda entre Congonhas e a capital paranaense cresceu e as passagens acabaram ficando cerca de 20% mais caras com aumento de 10% no número de passagens vendidas.

Os dados da Anac também

Olhar no futuro “É possível baratear as passagens? É. Isso acontecerá à medida que o ambiente regulatóri­o for mais alinhado ao que acontece no resto do mundo.” Eduardo Sanovicz PRESIDENTE DA ABEAR

mostram que três rotas tiveram oscilação próxima da inflação. Entre elas está o trecho mais movimentad­o das Américas: a ponte aérea entre Congonhas e Santos Dumont, cujo preço de novembro subiu 1,8% ante 2016. Em outubro, a oscilação foi para baixo: queda de 1,5%.

Entre os trechos que ficaram mais baratos, a caracterís­tica comum é o maior número de assentos vendidos. A redução de preço mais evidente ocorreu entre Congonhas e Porto Alegre, cujo bilhete médio recuou 23,7%. O preço pode ter relação com maior oferta de voos na rota: o número de passagens praticamen­te dobrou na Latam e cresceu quase 40% na Gol. Outras rotas com queda foram as de Guarulhos a Salvador e Recife. Com perfil mais turístico, essas passagens ficaram, em média, 10% mais baratas.

Custos. O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, explica que a oscilação dos preços se deve a vários fatores, sendo que a bagagem e só um deles. “A querosene de aviação subiu 30%. E há movimentos distintos de demanda e concorrênc­ia (nas rotas).”

Dados da Abear indicam que o combustíve­l é o maior custo e representa 26% do que a aérea gasta. Em seguida vêm aluguel e manutenção dos aviões (22%), tripulação (11%) e outras despesas operaciona­is (11%). Não há cálculo sobre as bagagens.

Questionad­o sobre a promessa de que seria possível reduzir a passagem com a bagagem paga, Sanovicz diz que a medida é importante para que as empresas já estabeleci­das se preparem para a provável chegada de empresas de baixo custo, como ocorre na Argentina. “Aqui na esquina estão chegando duas ou três empresas que fazem isso. Temos de nos preparar para a disputa com toda a flexibilid­ade que a eventual concorrent­e tenha.”

Para ele, a bagagem faz parte de uma tendência de desregulam­entação do setor, movimento que resultará na queda dos preços. “É possível baratear as passagens? É. Isso acontecerá à medida que o ambiente regulatóri­o for mais alinhado ao que acontece no resto do mundo.”

A Anac diz em nota que a avaliação do impacto da nova política é “prematura e pode induzir a conclusões precipitad­as”. Alega ser preciso analisar uma série mais longa, mas que os benefícios aparecerão. “Os ganhos de eficiência e bem-estar social devem se consolidar com mais tempo.”

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Cálculo. Dados da Abear mostram que o combustíve­l é o maior custo das aéreas, seguido de aluguel e manutenção dos aviões; não há cálculo para bagagens
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