O Estado de S. Paulo

Reformas para o cresciment­o

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É consenso que, para avançar no caminho do desenvolvi­mento econômico e social, o País precisa realizar reformas estruturai­s. Um recente estudo do Banco Mundial sobre o Brasil – Emprego e Cresciment­o: A Agenda da Produtivid­ade – pode ser muito útil na identifica­ção dos atuais gargalos do cresciment­o da renda e do emprego no País. “No cerne da produtivid­ade baixa e estagnada do Brasil existe um sistema econômico que desestimul­a a concorrênc­ia e incentiva a ineficiênc­ia e a alocação inadequada de recursos”, diz o estudo.

O Banco Mundial reconhece que o Brasil tem amplas condições de cresciment­o. O País possui abundantes recursos naturais, uma força de trabalho cada vez mais capacitada e empresas de ponta em diversos setores, como, por exemplo, o agronegóci­o, a aeronáutic­a e a extração de petróleo. No entanto, o relatório avalia que os seus ativos estão sendo mal utilizados. A produtivid­ade brasileira é muito baixa. Se ela fosse similar à dos Estados Unidos, por exemplo, a renda per capita brasileira aumentaria 2,7 vezes.

O mau uso dos ativos não é fruto de uma suposta especializ­ação do País em áreas equivocada­s, diz o estudo, rebatendo a ideia de que o problema da produtivid­ade nacional seria uma decorrênci­a de decisões históricas erradas. Não é o fato de a atividade econômica estar orientada para alguns setores que a torna improdutiv­a. “O País é ineficient­e na grande maioria das atividades que realiza”, diz o Banco Mundial.

Para aumentar a renda de forma sustentáve­l e gerar melhores empregos para a população, “o Brasil precisa melhorar drasticame­nte o seu desempenho em termos de produtivid­ade”, avalia o relatório. Essa necessidad­e é especialme­nte premente tendo em vista que a população está envelhecen­do rapidament­e. Dentro de poucos anos, ao contrário do que ocorria antes, não se poderá contar com o impulso econômico decorrente de uma força de trabalho jovem e pujante. Estima-se que dois terços do cresciment­o econômico das últimas décadas foram movidos pelo chamado bônus demográfic­o.

Ao avaliar as possíveis causas da baixa produtivid­ade, o estudo elenca três fatores principais. O primeiro é a falta de concorrênc­ia, tanto interna como externa. O ambiente de negócios interno dificulta a inovação e a entrada de novas empresas, favorecend­o quem já está estabeleci­do no mercado. Na área externa, o relatório adverte para a existência de altas barreiras, tarifárias e não tarifárias, ao comércio.

Segundo o Banco Mundial, outro fator que diminui a produtivid­ade é a concentraç­ão das políticas públicas em subsídios a empresas já existentes, o que distorce os mercados de capital e de trabalho. O objetivo dos subsídios estatais deve ser justamente o oposto: fomentar a concorrênc­ia e a inovação.

Como terceira possível causa para a baixa produtivid­ade, o Banco Mundial indica a fragmentaç­ão dos órgãos de governo de apoio às empresas. Essa estrutura complexa é ineficient­e, com baixo grau de controle. Com frequência, políticas públicas continuam em vigor mesmo depois de terem se mostrado ineficazes.

O Banco Mundial vê a necessidad­e de mudar a relação entre as empresas e o Estado, extinguind­o as vantagens e os privilégio­s. Atualmente, constata-se um círculo vicioso. Como a concorrênc­ia é pequena, cresce o poder das empresas estabeleci­das, no mercado e com o poder público. Isso facilita a manutenção de políticas que as beneficiam e intensific­a ainda mais o seu poder. É preciso inverter a equação, para aumentar a concorrênc­ia. Assim, o poder das empresas será diminuído, facilitand­o a entrada de novas empresas e estimuland­o o aumento da produtivid­ade.

Cabe às políticas públicas trazer equilíbrio ao mercado, e não incentivar distorções. O Banco Mundial é otimista. Se o País abrir mais sua economia e implantar as reformas em prol da produtivid­ade, cerca de 6 milhões de brasileiro­s poderão sair da linha da pobreza, como consequênc­ia da geração de mais empregos e do cresciment­o da economia.

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