O Estado de S. Paulo

Thereza Collor tenta vaga na Câmara pelo PSDB.

Pré-candidata pelo PSDB, Thereza Collor desafia estigma do sobrenome e almeja entrar na vida pública

- Gilberto Amendola Pedro Venceslau

Em 1992, o Brasil era outro. Filmes como O Guarda-Costas lotavam as salas de cinema, e os brasileiro­s comemorava­m o primeiro ouro olímpico no vôlei masculino. O ano também foi marcado pela ação da Polícia Militar na Casa de Detenção de São Paulo, naquilo que ficou conhecido como Massacre do Carandiru. No campo político, a palavra “musa” era de uso corrente – e, por isso, hoje é quase impossível encontrar um registro sobre Thereza Collor em que a expressão “musa do impeachmen­t” não apareça.

Ela ganhou essa alcunha quando o seu então marido, o empresário Pedro Collor de Mello (que morreu em 1994), denunciou um esquema de corrupção que envolvia o próprio irmão, o então presidente Fernando Collor de Mello. “Ser considerad­a musa foi uma honra. Mas você quer me lançar como musa da nova política agora, é?”

Thereza Collor, de 55 anos, recebeu o Estado em seu apartament­o em São Paulo, na mesma rua onde mora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na sala, antiguidad­es adquiridas durante viagens para países do Oriente Médio, Ásia e África dividem espaço com equipament­os de ginástica, como esteiras e bicicletas ergométric­as.

A musa de 1992, hoje, é pré-candidata tucana a uma vaga na Câmara Federal. “Não tenho medo. Sei que as pessoas vão ligar meu sobrenome ao impeachmen­t do Collor. Mas tenho a ideia de uma campanha propositiv­a. Quero fazer parte do novo na política e do processo de renovação do Congresso”, afirmou ela.

Thereza quer ter no combate à corrupção sua principal bandeira de campanha. Apesar disso, ela não parece disposta ao enfrentame­nto. Diz não concordar, por exemplo, com as propostas mais polêmicas do deputado Jair Bolsonaro, mas evita fazer críticas severas ao pré-candidato do PSL à Presidênci­a. Ela também considera a précandida­ta Marina Silva (Rede) uma política ausente dos grandes debates nacionais, mas faz questão de completar que se trata de “uma pessoa maravilhos­a”. Da mesma forma cuidadosa, ela defende a possibilid­ade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser preso, mas sem se compromete­r com alguma opinião mais incisiva.

Feminismo. Mesmo quando questionad­a sobre ser feminista ou não, ela prefere o meio termo. “Se você diz que feminista é quem defende a mulher através do diálogo, eu sou feminista. Agora, se você diz que ser feminista é brigar de forma intransige­nte, eu não sou. Quero o diálogo. Quero o que a mulher tem de melhor: sensibilid­ade e tato”, disse.

Thereza só deixa transparec­er certa emoção ao falar sobre o ex-cunhado, o hoje senador Fernando Collor. Questionad­a sobre uma eventual nova candidatur­a de Collor à Presidênci­a, ela provoca: “O presidente Collor tem o direito de querer (ser presidente), mas se naquela época ele teve problemas com um Fiat Elba, agora vai ser com uma Maserati, uma Ferrari. Achei que com o tempo e a maturidade, ele poderia ter aprendido um pouco mais, mas cada um escolhe

suas opções”, disse. Sobre a possibilid­ade de dialogar com Collor caso seja eleita deputada, Thereza diz: “Por enquanto, eu não sou nada. Nesse momento, não posso dialogar com ninguém. Mas se for necessário, investida de um cargo, não me negaria. Acima de tudo, sou uma pessoa educada e civilizada”.

Há 18 anos vivendo em São Paulo, Thereza será candidata pelo Estado que adotou e não por Alagoas, onde já exerceu a função de secretária de Turismo. Ela não tem clareza de como irá financiar a campanha. Não fala em autofinanc­iamento, prefere acreditar que irá receber recursos do partido e de doadores.

Nos últimos meses, ela tem se aproximado da vida partidária. Thereza esteve presente no lançamento da pré-candidatur­a do prefeito João Doria ao governo do Estado. Na ocasião, foi anunciada pelo presidente estadual da sigla, Pedro Tobias. Ao ser convidada a falar, fez menções elogiosas ao PSDB e ao próprio Doria – que, segundo ela, deixou a Prefeitura atendendo um chamado da sigla.

No fim da reunião, foi cercada por militantes que queriam uma selfie com a “ex-cunhada” de Collor, com a musa do impeachmen­t de 1992. Ela não nega uma selfie, mas diz não ser fã das redes sociais. “Tenho uma vida discreta.”

Humanista. Hoje, Thereza é casada com o empresário Gustavo Halbreich e garante viver com conforto. “Não preciso fazer da política uma bancada de negócios. Vou me candidatar porque gosto de desafios e acho que posso colaborar”, afirmou ela, que apresenta um leve tremor nas mãos. Thereza é portadora de um distúrbio neurológic­o de movimento chamado “tremor essencial”, que ocorre durante atividades simples e pode ser agravado por estresse ou cansaço.

Ela prefere se definir como humanista e diz não se enquadrar na direita ou na esquerda. “Sou humanista, quero dignidade e igualdade para as pessoas”, diz ela, que acrescenta não temer o peso do sobrenome Collor. “Minha vida foi exposta. Ele é parte da minha história. Não vou escondê-lo. O que eu espero é que as pessoas me conheçam.”

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 ?? AMANDA PEROBELLI / ESTADÃO ?? Em casa. Thereza Collor posa na sala do seu apartament­o, em São Paulo, decorado com peças compradas durante suas viagens ao exterior e com equipament­os de ginástica
AMANDA PEROBELLI / ESTADÃO Em casa. Thereza Collor posa na sala do seu apartament­o, em São Paulo, decorado com peças compradas durante suas viagens ao exterior e com equipament­os de ginástica
 ?? CÉLIO JR. / ESTADÃO - 29/4/1993 ?? Viúva. Thereza foi casada com o empresário Pedro Collor de Mello, que morreu em 1994
CÉLIO JR. / ESTADÃO - 29/4/1993 Viúva. Thereza foi casada com o empresário Pedro Collor de Mello, que morreu em 1994

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