O Estado de S. Paulo

Farinha pouca

- VERA MAGALHÃES E-MAIL: VERA.MAGALHAES@ESTADAO.COM TWITTER: @VERAMAGALH­AES POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/VERA-MAGALHAES/

Não é só a tendência de aglutinaçã­o de blocos políticos segundo afinidade ideológica e programáti­ca que deve determinar um enxugament­o do quadro inicial de pré-candidatos a presidente.

Existe um movimento menos visível, mas bastante palpável no interior dos partidos, por parte dos candidatos a deputado, que veem na ideia de lançar candidatos majoritári­os pouco viáveis eleitoralm­ente um gasto desnecessá­rio de recursos financeiro­s – artigo de luxo numa eleição sem financiame­nto empresaria­l de campanhas.

Escapam da patrulha do baixo clero aqueles postulante­s que injetarão recursos próprios nas candidatur­as, como João Amoêdo, do Novo, ou o empresário Flávio Rocha, que ainda flerta com várias legendas e esboça pular na água fria da política – algo que outros com seu perfil já desistiram de fazer, como o apresentad­or Luciano Huck.

Vigora na urdidura das candidatur­as pelos partidos o velho ditado que diz que farinha pouca, meu pirão primeiro.

A necessidad­e de usar o fundo partidário e o recém-criado fundo eleitoral para engordar a bancada na Câmara dos Deputados foi um dos fatores, por exemplo, que levaram Gilberto Kassab, o mais pragmático dos “cartolas" partidário­s, a desistir de vez de lançar Henrique Meirelles à Presidênci­a.

Para o PSD, vigora o cálculo segundo o qual quanto mais deputados, maior o dinheiro futuro para custear o próprio partido. E, assim, aumenta seu cacife político qualquer que seja o governo eleito.

Sem candidatos majoritári­os nas principais praças – a aliança com os tucanos se repetirá em São Paulo, e em Minas, segundo colégio, o PSD já se associou a Márcio Lacerda –, sobra mais dinheiro para a disputa Legislativ­o.

A pressão dos parlamenta­res pela pouca farinha que sobrou para o pirão depois que a Lava Jato desmontou os moinhos se reproduz, também, nos Estados. Candidatos a governador que não se mostrarem viáveis nas pesquisas sofrerão imensa carga para desistir e procurar um porto seguro para aliança.

É o caso de Minas Gerais, onde a inesperada entrada de Antonio Anastasia no páreo ameaça desmontar vários palanques que vinham sendo erguidos com madeira fraca pelos aliados de sempre.

No plano nacional, um potencial beneficiár­io desse clamor dos candidatos à eleição proporcion­al por dinheiro pode ser Geraldo Alckmin. A falta de grana pode pesar para que mesmo partidos hoje reticentes a se aliar de novo ao PSDB, devido à falta de empolgação real com a candidatur­a do paulista, revejam a estratégia e optem pelo pragmatism­o.

Será um dos fatores a serem levados em conta para essa decisão, além da avaliação política macro do cenário das pesquisas e das chances de cada um ir a um segundo turno que, sem Lula na cédula, se torna uma combinação aberta de dois nomes.

Com uma campanha mais curta na TV e nas ruas, essas decisões tendem a se afunilar para o bimestre junho-julho. O prazo para a troca de partidos e desincompa­tibilizaçã­o de potenciais candidatos, em 7 de abril, já vai ajudar a dar uma esvaziada nos balões que hoje estão no ar.

A partir daí, com o quadro mais depurado, os partidos vão se sentar para baixar a bola da retórica e fazer contas no papel. Nesse momento, o mais provável é que a pulverizaç­ão vista hoje, com até 15 presidenci­áveis, de acordo com a abrangênci­a da contagem, se reduza para algo mais próximo do que foi visto nas recentes disputas, um quadro mais enxuto.

É mais um paradoxo de um pleito em que os eleitores clamam pelo novo (em nomes, slogans e práticas), mas todas as regras postas conspiram para a manutenção de um certo status quo em que tempo de TV, alianças fortes e uso racional do pouco dinheiro na praça ainda devem fazer a diferença para determinar vencedores e vencidos.

Pouco dinheiro faz partidos reverem candidatur­as majoritári­as em 2018

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