O Estado de S. Paulo

Candidatos LGBT em busca de afirmação política

Entidade de lésbicas, gays, bissexuais e trans contabiliz­a quase 100 pré-candidatos ligados às pautas da causa

- Gilberto Amendola

Dos 513 deputados federais, apenas um é assumidame­nte homossexua­l. A baixa representa­tividade é sentida na timidez com que pautas como a criminaliz­ação da homofobia são discutidas e no atropelo que as demandas da comunidade gay sofrem na Casa pelas fortes bancadas conservado­ras e religiosas.

Atenta a essa realidade, a Aliança Nacional LGBTI+ começou um mapeamento dos pré-candidatos assumidame­nte homossexua­is e aliados. Até sexta-feira passada, o levantamen­to apontava 93 nomes, divididos entre gays, mulheres e homens transexuai­s, lésbicas, bissexuais, travestis e outros (entre esses, os aliados – que podem ser heterossex­uais mas são considerad­os defensores da causa).

O partido com mais pré-candidatos com essas caracterís­ticas é o PSOL (19), seguido pelo PCdoB (14) e o PT (11). Legendas considerad­as de direita, como PSD, PTC e PTB também têm representa­ntes. A divisão por região mostra que o Sudeste concentra quase metade desses nomes (40). A região com menos representa­ntes é a Norte, com apenas três.

O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, afirma que o levantamen­to visa criar uma rede de trocas de ideias e propostas para eventuais mandatos – bem como ajudar na divulgação das próprias campanhas.

“Nossa esperança é aumentar a bancada na Câmara em pelo menos 100%”, diz Reis. “Parece muito, mas na verdade hoje só temos um deputado assumidame­nte gay, o Jean Wyllys (PSOL-RJ). Então, aumentar a bancada em 100% é sonhar com pelo menos dois eleitos.”

O levantamen­to incluiu a pré-candidata à Presidênci­a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) na lista. “Ela entra como ‘outros’. Embora não seja gay, Manuela é uma aliada ‘plus’, alguém muito conectada com as nossas causas”, afirma.

Trans. A diversidad­e, no entanto, ainda não é uma realidade no comando dos partidos. Apenas Rede e o PSB têm transexuai­s em suas executivas, embora boa parte das siglas tenha setores dedicados ao tema em suas estruturas internas. A advogada Giowana Cambrone foi a primeira trans em um cargo de direção. Ela, que é da Rede Sustentabi­lidade e do Raps, movimento de renovação política, estuda a possibilid­ade de se candidatar a deputada federal.

Para Giowana, a Câmara é especialme­nte conservado­ra. “Nossos principais avanços nas questões de gênero foram conquistad­os por meio do Judiciário e não por leis aprovadas no Congresso”, afirma. A última vitória do movimento foi no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que autorizou que candidatos trans sejam registrado­s na cota dos partidos pelo gênero com o qual se identifica­m. “O processo é lento, mas aos poucos estamos ocupando espaços de decisão”, diz a dirigente da Rede.

Homofobia. Tathiane Araújo, a primeira mulher trans a fazer parte do comando do PSB, pretende trabalhar o tema da criminaliz­ação da homofobia como prioridade no Congresso. “A lei que criminaliz­a o racismo, por exemplo, é um instrument­o para se fazer justiça ao discrimina­do. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece”, afirma Tathiane.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Pioneira. A advogada Giowana Cambrone, da Rede, é a primeira trans a ocupar cargo de direção em um partido no País

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