O Estado de S. Paulo

DIPLOMACIA EM TEMPOS DE CRISE

Sem ter mais como pagar aluguéis, diplomatas venezuelan­os em Londres têm teto improvisad­o

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Acrise venezuelan­a já afeta a diplomacia do país em aspectos muito mais elementare­s do que a preparação de funcionári­os ou a abertura de embaixadas. Em vários postos, os salários não são pagos desde dezembro. Em casos mais graves, como em Londres, os diplomatas passaram a viver em um prédio do governo, após calote no pagamento de aluguéis.

No dia 29 de janeiro, a embaixador­a da Venezuela em Londres, Rocío Maneiro, enviou uma carta “urgente” ao chanceler, Jorge Arreaza, explicando a situação. Segundo ela, o país tem cinco edifícios na capital britânica, entre eles o Bolívar Hall, uma sala para concertos e eventos culturais. O local conta com três apartament­os para alojar delegações e artistas.

“Como o último salário pago foi em setembro de 2017, vários funcionári­os diplomátic­os em Londres se encontram impossibil­itados de pagar aluguéis, já que tiveram de priorizar o pagamento de comida e transporte”, escreveu Rocío na carta, que o Estado obteve e também foi transmitid­a para a chefe de recursos humanos da chancelari­a.

Segundo ela, para que os trabalhos da missão pudessem ser mantidos em “condições mínimas”, foi decidido que os três apartament­os passariam a alojar três diplomatas venezuelan­os e suas famílias. Eles são Yaiza Piñate, Celina Hernández e Marcos García.

Na avaliação da embaixador­a, a situação é “difícil”. “A conselheir­a Piñate, o primeiro-secretário García e a segunda-secretária Hernández ocuparão os três apartament­os do Bolívar Hall a partir de 1.º de fevereiro de 2018, até que se regularize a situação de pagamentos de salários”, escreveu a embaixador­a. Ela indicou que durante esse período não haveria local para alojar delegações que o governo enviar a Londres. Procurada pela reportagem, a embaixador­a não retornou os telefonema­s nem os e-mails.

A situação de Londres não é um caso isolado. Pela Europa, o Estado confirmou que outros postos diplomátic­os também sofrem com a falta de pagamentos. Alguns estão sem receber há cinco meses. Em pelo menos duas embaixadas, nos últimos meses, as contas pessoais dos funcionári­os estão sendo pagas pelo chefe da missão.

Em fevereiro, alegando corte de gastos, o governo de Nicolás Maduro fechou as embaixadas em Helsinque, Copenhague e Estocolmo. Endividada em diversas organizaçõ­es internacio­nais, a Venezuela não tem mais acesso a documentos de reuniões na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC), onde o país já é considerad­o “membro inativo”.

Dados obtidos pelo Estado revelam também que Caracas acumulava, até outubro de 2017, uma dívida de dois anos em suas contribuiç­ões obrigatóri­as com a ONU, o que levou o país a ser suspenso de algumas votações na Assembleia-Geral. Em dezembro, a Venezuela tinha uma dívida de US$ 28 milhões com a organizaçã­o.

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MARCO BELLO/REUTERS-15/2/2018 Bolso vazio. Nicolás Maduro em conferênci­a em Caracas: diplomatas do país enfrentam dificuldad­es econômicas
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A prova. Carta da embaixador­a em Londres, Rocío Maneiro
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