QUATRO PERGUNTAS PARA...
Renata Neder, coordenadora de pesquisas da Anistia Internacional
1.
Qual a situação de crimes contra os defensores de direitos humanos no País? Por que ainda ocorrem?
Defender os direitos humanos no Brasil é uma atividade de risco. Sobre Marielle, antes de ser vereadora, ela era uma defensora de direitos humanos. Construiu sua trajetória na defesa de mulheres negras e dos direitos de moradores da favela à segurança pública.
2.
Os crimes são devidamente investigados?
Esse é outro problema do Brasil. Mesmo quando o caso tem muita repercussão leva anos para ser julgado. E no caso de haver prisão, em geral é dos executores, de quem aperta o gatilho, mas não do mandante, o que, na prática, significa que o esquema de violência contra determinados grupos não é desmontado.
3.
A morte de uma vereadora foi apontada como atentado à democracia. A senhora concorda?
Quando um defensor de direitos humanos é assassinado, o crime é também um ataque ao Estado de Direito. É como se dissessem que não aceitam a resolução de conflitos de forma legal, não aceitam as regras do jogo democrático. No caso dela, que ocupava cargo público, é um desafio também às instituições. Se o Estado não der uma resposta à altura, abre-se uma porta muito perigosa para um aumento generalizado da violência.
4.
A morte de Marielle suscitou comentários acusando-a de “defensora de bandidos”. Por que é essa noção tão mal interpretada? Em geral, pessoas que dizem isso não sabem o que são direitos humanos. E essa incompreensão leva ao estigma de que defender direitos humanos é defender direitos de bandidos. Os direitos à moradia, educação e alimentação são direitos humanos. Precisamos romper esse ciclo com informação qualificada.