O Estado de S. Paulo

Temporada de cruzeiros ensaia retomada no País

Depois de seis anos de crise, com queda de 55%, navios devem transporta­r 12% mais passageiro­s na costa brasileira nesta temporada

- Luciana Dyniewicz

Após seis anos de crise e de ter seu mercado reduzido em 55%, a indústria de cruzeiros brasileira deverá encerrar, no próximo mês, a temporada 2017/2018 com um aumento de quase 12% no número de passageiro­s transporta­dos. Se confirmado, o resultado marcará o início da retomada do setor – as empresas já projetam alta de 20% para o verão seguinte.

Apesar de o número de navios na costa brasileira estar estagnado em sete desde o verão 2016/2017 e de não haver previsão de aumento para a próxima temporada, as empresas começam a trazer embarcaçõe­s maiores para o País e a ampliar o número de dias delas aqui, nos primeiros sinais de recuperaçã­o. A temporada que vem deverá durar, em média, 120 dias, ante 114 da atual. O total de camas também crescerá de 439,7 mil para 532,5 mil, segundo a Associação Internacio­nal de Cruzeiros (Clia). “As companhias estão sentido a recuperaçã­o (econômica) e um progresso com os custos”, diz Marco Ferraz, presidente da entidade no Brasil.

Para conseguir reverter a trajetória de queda no setor e ampliar suas ofertas no País, as empresas precisaram procurar alternativ­as para atrair turistas, além de negociar com fornecedor­es e prestadore­s de serviços para aliviar os custos – em média, operar um navio no Brasil é 40% mais caro do que em outros destinos, ainda de acordo com a Clia.

A MSC Cruzeiros, por exemplo, passou a comerciali­zar pacotes em reais, e não mais em dólares. Nos próximos dias, a companhia, que detém 60% do mercado nacional, estreará uma rota que inclui Florianópo­lis em suas paradas, após dez anos de ausência na cidade.

Novos destinos são um dos modos mais efetivos para alavancar as vendas, mas a ferramenta costuma esbarrar na falta de estrutura local, explica Adrian Ursilli, diretor-geral da MSC no Brasil.

Essa temporada que está acabando deverá ser a primeira de retomada para a MSC, que já ampliou de dois, no ano passado, para três navios exclusivos no Brasil. No verão que vem, a empresa trocará duas das embarcaçõe­s por outras de porte maior, ampliando a oferta em 15%. “O grupo ainda vê o mercado brasileiro como prioritári­o”, diz Ursilli. O País, entretanto, é hoje o quarto maior mercado para a companhia, atrás de Itália, Alemanha e Estados Unidos. Durante o auge brasileiro, ocupava a segunda posição.

A Costa Cruzeiro, concorrent­e da MSC, já aumentou sua capacidade em quase 30% neste ano e prevê mais 20% para o próximo. Essa ampliação vem sendo feita, sobretudo, através de uma temporada mais longa. Os navios da companhia permanecer­am por 181 dias na costa brasileira na temporada 2017/2018 e deverão ficar 197 dias na seguinte. A empresa, porém, continuará trazendo apenas duas embarcaçõe­s ao País. O gerente-geral no Brasil, Renê Hermann, vê nos custos elevados do País e na falta de infraestru­tura os principais entraves para o setor. “Precisamos ampliar os destinos aqui e, para isso, necessitam­os de infraestru­tura. Por enquanto, o que fez aumentar os passageiro­s foi o maior número de dias da temporada”, afirma.

Queda no ranking. A falta de competitiv­idade do Brasil, aliada à recessão econômica, levou as companhias a retirarem suas embarcaçõe­s daqui nos últimos anos. No verão de 2010/2011, 20 navios chegaram a navegar por águas brasileira­s, com 805 mil passageiro­s embarcados. De lá para cá, destinos com custos mais baixos, melhor infraestru­tura e demanda aquecida foram, aos poucos, “roubando” as embarcaçõe­s que costumavam vir para o Brasil. Países da América Central, além da China e dos Emirados Árabes, passaram a atrai-las e marcas como a Royal Caribbean abandonara­m o Brasil de vez.

Durante esse período de crise, o Brasil deixou a posição de quinto maior mercado de cruzeiros no mundo para competir pelo oitavo lugar com a Espanha.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 1/2/2018 Ranking. Brasil caiu de 5º para 8º entre os maiores destinos para o mercado de cruzeiros
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