O Estado de S. Paulo

Festival encara a dura realidade de depender dos grandes nomes

- Pedro Antunes

Nos cartazes dos festivais de música, os olhos encontram fácil os tal head liners – as principais atrações, aquelas que encerram as noites de evento. São eles, afinal, que brilham tanto, mas tanto, que até podem cegar algum desavisado. E, diante de tal destaque, vem a tal constataçã­o: “Ué, mas essa banda aqui já não esteve naquele outro festival?”.

É uma crise, mesmo. Na falta do novo e inédito, recicla-se uma, duas, três vezes... Sem uma nova fonte de mais atrações que atraiam as massas – fruto da pulverizaç­ão do consumo da música pela internet, serviços de música por streaming e YouTube –, os tal nomões se repetem numa frequência até incômoda. Red Hot Chili Peppers passou pelo Brasil há sete meses, no Rock in Rio. The Killers e Pearl Jam já estrelaram o topo do cartaz do Lollapaloo­za na edição de 2013. O que esses três estão fazendo aqui, de novo, afinal? Eles, meus caros reclamões, são como a cobertura daquele doce que vai ser o mais vendido do dia em uma doceria. São os ingredient­es mais vistosos, que fazem salivar a boca até daqueles que preferem um cafezinho sem açúcar. Conhecer um punhado de músicas desse trio que tem a responsabi­lidade de encerrar as atividades do festival realizado no Autódromo de Interlagos, nos dias 23, 24 e 25, é fácil. Com exceção dos fãs fervorosos – e, acredite, eles existem e adoram perseguir jornalista­s em redes sociais –, o restante do público que frequenta esses eventos gigantesco­s de música vai, mesmo, pelo recheio, pela experiênci­a de descobrir uma nova banda favorita, para reclamar dos shows decepciona­ntes e, claro, postar fotos no Instagram.

O recheio, amigos, é o que faz um bom doce. A apresentaç­ão minimament­e razoável garante a compra, o interior é que não pode ser doce demais ou massudo. Mas a cobertura poderia variar e não ser só aquele bom e velho chocolate? Poderia.

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