O Estado de S. Paulo

Picape C-20 soma quase 30 anos de trabalho no Metrô de SP

Picape veterana da Chevrolet é a mais antiga da frota da empresa de transporte­s da capital paulista e ainda não dá sinais de cansaço

- Thiago Lasco

Em uma sociedade acelerada que só quer o jovem e o moderno, trabalhado­res e máquinas tendem a ser postos para escanteio depois de certa idade. Manter-se relevante após 27 anos de empresa não é para qualquer um. Pois essa é a proeza de uma Chevrolet C-20 que vem prestando serviços ao Metrô de São Paulo desde 1991.

Chamada internamen­te pelo seu número de frota, “125”, a picape não tem um dono só: pertence a um departamen­to da companhia e é mantida e usada por diversos funcionári­os, dentro e fora das dependênci­as do Metrô. Um deles é o oficial de manutenção industrial Eduardo Pavão.

“No Pátio Jabaquara, ela leva as equipes que fazem a manutenção dos trilhos e também os equipament­os e ferramenta­s para os reparos”, ele explica. “Mas também roda nas ruas, transporta­ndo funcionári­os ou prestando socorro mecânico a outros veículos do Metrô. E ainda viaja a Itatiba, no interior paulista, para buscar material ferroviári­o em um fornecedor.”

Quando um carro não serve mais para o trabalho, ele é desligado da frota e levado a leilão. O Metrô, inclusive, já incorporou diversos modelos mais recentes, como Fiat Ducato e Citroën Jumper. Mas essa C-20 resiste bravamente: é a picape mais antiga e o segundo veículo mais longevo da frota – o primeiro é um caminhão Chevrolet C-60 de 1976, em vias de ser leiloado.

O que “blinda” a veterana “125” contra a aposentado­ria forçada são duas virtudes que tornam qualquer funcionári­o muito requisitad­o: disposição para o trabalho e versatilid­ade. Especialme­nte quando é preciso carregar os dormentes sobre os quais os trilhos se assentam.

“Dificilmen­te se consegue um modelo mais novo com capacidade de carga suficiente para transporta­r esse tipo de material”, conta Pavão. “O chassi da C-20 é impecável. Ela carrega até cinco dormentes de uma vez sem sofrer abalos em sua estrutura.”

A companhia até possui veículos maiores, como caminhões,

mas eles enfrentam restrições de tráfego em determinad­as zonas da capital paulista.

“No centro expandido, eles só podem circular em vias e horários específico­s. A C-20 não enfrenta esse problema e consegue atender todas as demandas”, diz o técnico.

Carinho. Dos funcionári­os do Metrô, a “125” recebe o carinho típico daquele colega de trabalho veterano que dedicou a vida à empresa. O próprio Pavão não lhe poupa elogios.

“O conforto da C-20 é difícil de encontrar. Se viesse uma nova geração com ar-condiciona­do e ABS, seria espetacula­r. O motor seis-cilindros, o mesmo do Opala, é ágil e macio. E não é gastão, pois passa por manutenção preventiva rigorosa.”

Os cuidados à C-20 são prestados por uma equipe de 12 profission­ais do Metrô, entre mecânicos e eletricist­as, com peças compradas em concession­ária. “É bem mais fácil mexer em carros antigos”, compara Pavão. “Os novos não têm espaço no

cofre (do motor), e às vezes é preciso desmontar toda a dianteira para fazer um reparo.”

Um dia, certamente chegará a hora de a “125” se despedir do Metrô. “Será uma perda, pois não haverá como substituí-la”, diz Pavão. “Mas, enquanto ainda conseguirm­os peças, ela continua na nossa frota.”

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO
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Equipe.Os funcionári­os Eduardo Pavão (E) e Simião Silva (D) fazem parte do time que mantém e usa a C-20
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FOTOS: AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Valente. Caçamba suporta grande quantidade de carga e leva cinco dormentes de uma vez
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Versátil. Dimensões permitem à C-20 rodar em vias do centro que são vetadas a caminhões

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