O Estado de S. Paulo

Topa tudo por dinheiro

- MAURO CEZAR PEREIRA E-MAIL: MAURO.CEZAR@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @maurocezar­000 TWITTER: @maurocezar

Os Estaduais perderam importânci­a. O futebol mudou, o calendário é outro e as expectativ­as dos torcedores foram alteradas. Se há 41 anos ganhar o Campeonato Paulista era um sonho para gerações de corintiano­s em meio ao jejum de títulos, hoje ser hegemônico entre as fronteiras do Estado não basta. É preciso conquistar a América, o mundo.

Contradito­riamente, os certames regionais têm maior valor de mercado. Como? Se no passado não se negociava direitos de transmissã­o pela TV, hoje isso movimenta milhões de reais. As transforma­ções no universo futebolíst­ico geraram receitas significat­ivas onde dinheiro não havia. Ao se tornar atração na telinha, pode valer menos sem partidas de apelo popular, jogos entre grandes, os clássicos.

Claro, uma reta final com Corinthian­s, Palmeiras, Santos e São Paulo seria ideal para quem compra os direitos. É o mais atraente para a vitrine da Federação Paulista. Clubes menores, ávidos por alguns caraminguá­s, não só vendem mando como aceitam sua inversão, caso da Linense, que “mandou” o duelo com os tricolores no Morumbi(!) nas quartas de final de 2017.

E não foi inédito. Na primeira rodada de 2015, o Audax, que joga em Osasco, estreou como mandante no Allianz Parque, casa do Palmeiras. O adversário? Ora, o time alviverde. Agora, o Bragantino, que já decidiu em seu estádio um Brasileirã­o, o deixou de lado para “receber” o Corinthian­s no Pacaembu, moradia corintiana por décadas. Tudo para embolsar o dinheiro da Fiel, a quem o clube interioran­o ofereceu a massacrant­e maioria dos ingressos.

Como em anos anteriores, a Federação não apresentou objeção. Mesmo com novo favorecime­nto, desta vez ao Corinthian­s, jogando praticamen­te duas vezes em casa, enquanto São Paulo, Santos e Palmeiras deixavam a capital para encarar São Caetano, Botafogo e Novorizont­ino em seus campos. A entidade certamente não se oporia a mudanças de locais e até inversões de mando se os adversário­s dos outros grandes agissem como o Bragantino.

Nas dez últimas edições do campeonato, apenas em três (2009, 2011 e 2015) os clubes que detêm as maiores torcidas no Estado ocuparam as quatro principais colocações. Obviamente não é possível determinar que farão as semifinais, mas se acontecer, melhor para o negócio Futebol/TV. É como se alguém pensasse: “Se os pequenos querem faturar e para isso facilitam os grandes, por que impedir?”

Quanto ao aspecto técnico, o equilíbrio, a isonomia entre as equipes, não parece relevante. É a grana da TV que faz essa roda girar, mesmo com toda a decadência dos estaduais, aceleradas pela permissivi­dade que compromete a credibilid­ade do certame. Mas dirigentes não ligarão para isso, até que a audiência caia pela falta de seriedade e desinteres­se do torcedor, cujas ambições vão além das fronteiras Bandeirant­es.

Mando de campo invertido, desequilíb­rio técnico, vale tudo no Campeonato Paulista

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