O Estado de S. Paulo

Fundos devem voltar a investir este ano, apesar das incertezas

Retomada da economia e necessidad­e de capital das empresas têm aumentado apetite de fundos este ano

- Mônica Scaramuzzo

O apetite dos fundos de private equity por Brasil começa a crescer este ano, estimulado pela recuperaçã­o da economia e pela necessidad­e de boa parte das empresas, sobretudo as de médio porte, de levantar capital para expandir seus negócios. Após a severa recessão que o País atravessou, a estimativa agora é de que as gestoras aumentem entre 20% a 30% os aportes no País este ano, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).

Em 2016, as gestoras encerraram o ano com aportes de R$ 11,3 bilhões, uma queda de 38,7% em relação ao ano anterior. O balanço dos aportes injetados por fundos em 2017 ainda não foi divulgado, mas deve ficar nos mesmos patamares do ano anterior, diz Clóvis Meurer, fundador e membro do conselho deliberati­vo da ABVCAP.

“O ano de 2017 foi muito ativo para os fundos de private equity no mundo. Vamos começar a ver, a partir deste ano, o retorno desse movimento no País”, afirma Newton Monteiro de Campos Neto, coordenado­r do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVcepe), da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ao lado de Advent, o fundo global Warburg Pincus também está de olho em ativos no País. A gestora de investimen­tos canadense Brookfield, que não se encaixa no conceito puro de private equity, foi a que mais investiu durante a crise e ainda continua em busca de aquisições em infraestru­tura em 2018. Já a gigante Carlyle quer aproveitar o bom momento da economia brasileira para sair de negócios já investidos, apurou o Estado. Melhorar gestão. As gestoras de investimen­tos têm um papel muito importante para a economia do Brasil, diz Campos, da GVCepe. “Lógico que o racional é investir em uma companhia para depois sair com lucro. Mas, no Brasil, especifica­mente, esses fundos desempenha­m uma função estratégic­a na gestão das empresas nas quais investe. Muitas empresas são familiares, com uma gestão pouco profission­alizada e a entrada desses investidor­es muda o direcionam­ento do negócio.”

Foi o caso da Advent em algumas das empresas que o fundo investiu. Um dos exemplos mais bem-sucedidos foi no laboratóri­o de diagnóstic­os Fleury, um dos maiores do País.

O fundo tornou-se acionista em 2015, auge da crise, com aporte de R$ 350 milhões, e saiu em setembro passado, embolsando cerca de R$ 1,3 bilhão. Nesse curto período que ficou no laboratóri­o, controlado pelos médicos fundadores, fez mudanças significat­ivas na empresa: com dois assentos no conselho, fortaleceu os três comitês do grupo, introduziu gestão de risco e finanças e o Fleury ficou mais rentável.

Esse mesmo modelo já começou a ser replicado na Estácio. Em abril, o Advent vai indicar um nome de sua confiança para presidir o conselho de administra­ção da companhia de educação, no lugar de João Cox, segundo fontes. Juan Pablo Zucchini, da gestora, é apontado como substituto.

Ao Estado, Piero Minardi, sócio-diretor do Warburg Pincus, disse que a gestora segue a mesma filosofia do Advent, de apostar em empresas com potencial de cresciment­o e de indicar nomes para o conselho das empresas, sem que seus sócios participem diretament­e da gestão.

A gestora, que é controlado­ra da rede Petz, foi responsáve­l pelo processo de expansão da varejista voltada a animais pets, diz Minardi. O fundo global também é um das principais acionistas da empresa de alimentos Camil e avalia oportunida­des de investimen­tos no País. Minardi pondera, contudo, que o apetite dos investidor­es pode ser freado pelas incertezas políticas com as eleições deste ano, sobretudo pelo impacto que os possíveis candidatos podem ter sobre o câmbio.

Foram as incertezas políticas que deixaram o Carlyle mais cauteloso para ir às compras. Investidor ativo no Brasil, o fundo procura agora uma porta de saída para seus negócios: vai abrir o capital da Ri Happy e busca alternativ­a para a Tok Stok, segundo fontes.

De maneira mais agressiva, o Advent está ativo nas duas pontas: desinvesti­u com sucesso de negócios maduros, como TCP e Fleury, por exemplo, e busca sair de outros, casos da varejista gaúcha Quero-Quero, que deverá abrir o capital. Mas ainda tem em alguns desafios, como a Restoque (varejo de roupas) e IMC (dona da Frango Assado).

Procurados, Advent, Carlyle e Brookfield não comentam.

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ALEX SILVA/ESTADÃO Sucesso. Advent reestrutur­ou o Fleury, que ficou rentável

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