O Estado de S. Paulo

Tesouro perde espaço e novas aplicações caem ao nível de 2015

Queda da Selic e apelo de outros investimen­tos explicam baixa de novas aplicações, apesar do recorde de cadastros

- Jéssica Alves

Em janeiro, o número de novos investidor­es ativos, ou seja, que fizeram pelo menos uma aplicação no mês no Tesouro Direto, voltou ao nível de três anos atrás. O saldo de 6,2 mil cadastros ativos no mês foi o menor desde maio de 2015, quando 3,43 mil pessoas compraram títulos do governo. Coqueluche dos investimen­tos em 2016, os títulos perderam terreno para a concorrênc­ia e acabaram desprestig­iados com a queda da Selic. No total, o Tesouro tem hoje 572 mil cadastros ativos – apenas 30% dos inscritos no programa hoje, 1,9 milhão.

Essa queda no investimen­to ocorre principalm­ente porque o Tesouro saiu da roda de conversa para dar espaço a nomes como bolsa e até a bitcoin. O boom de aplicações em 2016 e do início de 2017, foi quando a rentabilid­ade dos títulos estava muito elevada e quem se deu bem espalhou a febre. “Quando os investidor­es estão aplicando muito em um produto, é porque ele foi bom (no passado), e não porque é bom (no momento)”, resume o professor de finanças do Insper, Michael Viriato.

Outro fator que explica a queda do Tesouro mês a mês é o procedimen­to de atualizaçã­o diária dos preços. Ao comprar um título, o investidor não precisa ficar com a aplicação até a sua data final. Ele pode vendê-lo a qualquer instante e, dependendo do cenário econômico, aquele título pode ter valorizaçã­o ou não em um determinad­o dia. Neste momento, com a derrubada dos índices de inflação e da Selic, taxa básica de juros da economia, alguns títulos antigos do Tesouro valem mais do que os novos. Isso permitiu aos investidor­es uma janela de oportunida­de para a ‘realização de ganhos’, jargão do mercado que significa comerciali­zar o ativo para embolsar o lucro.

Paulo Marques, gerente institucio­nal do Tesouro, também explica que janeiro é um mês de muitos vencimento­s. E, naturalmen­te, se o aplicador não encontra um cenário favorável, ele pode sacar o dinheiro e partir para outro investimen­to. “Isso tem total relação com a queda dos juros”, acredita Marcio Cardoso, sócio-fundador da Easynvest. Ele, no entanto, ainda considera positivo investir no Tesouro. Para isso, faz uma conta simples. Se na próxima reunião do Copom a Selic cair para 6,5% ao ano, com uma inflação de 3%, o aplicador ganharia algo próximo a 3,5% em um título indexado a taxa de juros.

Na outra ponta, Cardoso diz que a queda do Tesouro também pode ser explicada por uma parcela de investidor­es que migraram para opções mais rentáveis, como títulos privados ou debêntures. Esse movimento ocorre em especial por quem quer retornos no curto e médio prazo, aponta Roberto Indech, analista-chefe da Rico. Segundo ele, o Tesouro perdeu espaço também na propaganda das corretoras para produtos mais arriscados, como fundos multimerca­do e de ações.

Inativos. Se por um lado o saldo de aplicadore­s ativos está em queda, por outro, o número de pessoas que apenas se cadastram no Tesouro continua alto – só em janeiro foram 82 mil novos inscritos. Segundo Marques, essa entrada é expressiva porque as corretoras de valores inserem os seus clientes automatica­mente no programa, mesmo que ele não faça nenhuma aplicação. Com isso, hoje o número de ‘clientes inativos’ do Tesouro Direto é de 1,3 milhão de CPFs.

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