National Geographic admite que foi racista
Tradicional revista reconhece que até os anos 1970 tratou as pessoas negras como primitivas e selvagens
Enquanto preparavam uma edição dedicada a etnias, os editores da National Geographic perceberam que a revista de 130 anos pode enfrentar dúvidas quanto à sua problemática história sobre o tema.
Então eles pediram a John Edwin Mason, um professor da Universidade da Virgínia que estuda a história da África e da fotografia, para fazer uma incursão nos arquivos da revista e examinar suas falhas na cobertura de pessoas de cor nos EUA e no exterior. Ele foi impiedoso. “Durante a maior parte de sua história, a National Geographic, em palavras e imagens, reproduziu uma hierarquia racial com pessoas morenas e negras no fundo, e pessoas brancas no topo”, disse Mason.
Havia uma completa ausência de africanos urbanos e instruídos nas páginas da revista, disse ele. As pessoas negras foram apresentadas como estáticas, primitivas e não tecnológicas, em geral despidas ou apresentadas como selvagens, disse ele. E essa imagem, que persistiu até a década de 1970, moldou como os leitores da revista – em grande parte brancos e de classe média – perceberam pessoas negras, disse ele.
Mas, ao apresentar suas descobertas aos editores, ele não recebeu o tipo de atitude defensiva que temia, disse. Em vez disso, eles deram à sua pesquisa colocação destacada sob uma manchete sem o menor equívoco: “Durante décadas, nossa cobertura foi racista. Precisamos admitir isso”.
Admissão. Escrito por Susan Goldberg, editora-chefe, a nota reconhece que “É razão de sofrimento para nós compartilhar as terríveis histórias do passado da revista”. Inclui alguns dos exemplos mais flagrantes de racismo, como uma história de 1916 sobre a Austrália que incluiu na legenda da foto: “Aborígenes australianos (blackfellows, palavra agora considerada ofensiva) do Sul: esses selvagens estão entre os menos inteligentes entre todos os seres humanos”.
A revista estava longe de estar sozinha em cobertura racista na época, disse Mason, mas foi considerada líder em fotografia. Seu esforço para enfrentar diretamente o passado foi muito bem recebido. Pelo menos duas publicações baseadas na web, Splinter e The Root, descreveram a decisão como um bem-vindo “primeiro passo”.
A autorreflexão da revista foi uma das admissões mais diretas dos pecados passados das organizações de mídia, que ocasionalmente lutaram com sua cumplicidade em injustiças.
Em 2004, o Lexington HeraldLeader
Susan Goldberg
de Kentucky publicou um “esclarecimento” na primeira página para reparar a cobertura sobre a luta dos direitos civis, 50 anos antes. Em 2016, The Courier-Journal de Louisville, Kentucky, pediu desculpas por continuar a se referir a Muhammad Ali, o famoso boxeador, como Cassius Clay por anos depois que ele mudou seu nome em 1964.
Seu editor, Neil Budde, escreveu que isso “pouco ajudou nas relações raciais em um momento turbulento.” (Esse foi um dos vários jornais, incluindo The New York Times, adotar lentamente a mudança).
O Times vasculhou seus arquivos em busca de fotos inéditas da história negra e escreveu retroativamente obituários para mulheres que inicialmente foram ignoradas, um esforço no qual se comprometeu a dar continuidade./
É razão de sofrimento para nós compartilhar as terríveis histórias do passado da revista”
EDITORA-CHEFE DA NATIONAL
GEOGRAPHIC