O Estado de S. Paulo

Caixa planeja reter lucro de R$ 10 bi para empréstimo­s

Estratégia. Banco vai divulgar nos próximos dias um lucro de mais de R$ 10 bi, que será retido para evitar o descumprim­ento de regras internacio­nais que limitam a concessão de novos empréstimo­s; volume de crédito ficou praticamen­te estável no ano passado

- Fernando Nakagawa/ BRASÍLIA IGOR GADELHA COLABOROU

A Caixa quer usar o lucro do ano passado, que deve ser histórico e superar R$ 10 bilhões, para voltar a ter protagonis­mo no mercado de crédito. Por lei, o banco tem de transferir 25% do resultado para o Tesouro, que deve abrir mão do montante em prol da instituiçã­o. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, disse ontem que o banco terá R$ 82,1 bilhões para o setor imobiliári­o. Em 2017, foram R$ 80,9 bilhões. Os resultados do ano passado serão divulgados nos próximos dias.

Depois de perder a liderança para concorrent­es em áreas como a de financiame­nto imobiliári­o, a Caixa deve ficar com todo o lucro de 2017 – mais de R$ 10 bilhões – para retomar o fôlego no mercado de crédito. Por lei, o banco tem de repassar 25% do resultado para o Tesouro Nacional, mas será liberado dessa obrigação neste ano. Segundo informaçõe­s preliminar­es do balanço da Caixa obtidas pelo ‘Estadão/Broadcast’, o volume de empréstimo­s, que já cresceu a um ritmo de 40% ao ano, deve fechar 2017 bem perto do mesmo patamar do ano anterior.

Embora esteja prestes a divulgar, nos próximos dias, um lucro recorde, o banco estatal enfrenta uma limitação para ampliar os empréstimo­s, porque está perto de descumprir normas internacio­nais que exigem mais capital próprio para fazer frente ao risco de perdas nas operações de crédito. A direção do banco está encarando o resultado do ano passado como uma boia de salvação para equacionar o problema da falta de capital. O resultado será superior ao recorde anterior, de R$ 7,3 bilhões em 2015.

Mesmo tendo lucro nos últimos anos, a Caixa sempre repassou boa parte dele ao Tesouro Nacional na forma de dividendos. Em 2016, por exemplo, foram transferid­os R$ 4,1 bilhões. Mas, diante da necessidad­e de capital, o banco pediu para ficar com a totalidade do resultado, como antecipou o Estadão/Broadcast. O governo agora sinaliza que abrirá mão dos dividendos. Nessa operação, a Caixa deve transferir 25% do lucro ao governo que devolveria em seguida em uma operação de capitaliza­ção.

Para solucionar o problema de capital, a instituiçã­o tentou tomar R$ 15 bilhões emprestado­s em polêmica operação com o FGTS. A operação foi abortada e, sem capital novo, o banco empresta cada vez menos.

Em um evento no Rio de Janeiro

Ranking

No ano passado, a Caixa ocupou um modesto quarto lugar no ranking dos bancos que mais financiara­m imóveis com recursos da poupança. Foram R$ 470,4 milhões, 85% menos que um ano antes. ontem, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, prometeu que o banco reduzirá o juro do financiame­nto habitacion­al ainda este mês. A iniciativa já faz parte do plano de reação, cujo principal ponto é ter mais dinheiro para emprestar. Occhi disse que o banco terá R$ 82,1 bilhões para o setor imobiliári­o

neste ano. O valor é um pouco superior ao do ano passado (R$ 80,9 bilhões), mas bem inferior ao de 2016 (R$ 93,7 bilhões).

Longe da liderança. A Caixa quer reverter uma situação inédita: com a crise, o banco já não é mais líder no financiame­nto imobiliári­o. Em dezembro de 2017, a Caixa ocupou um modesto quarto lugar no ranking dos que mais financiara­m imóveis com recursos da poupança. Foram R$ 470,4 milhões, 85% menos que um ano antes.

Com esse tombo, a Caixa ficou com um terço do tamanho do Itaú Unibanco naquele mês, que financiou R$ 1,2 bilhão e liderou o ranking da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança (Abecip).

Em janeiro de 2018, o tombo da Caixa foi um pouco menos dolorido: foram financiado­s R$ 749,7 milhões, queda de 31% na comparação com 2017. Com a queda um pouco menor, o banco federal ficou em terceiro lugar no ranking dos maiores do crédito imobiliári­o. No mês, Bradesco liderou o volume de crédito e foi seguido pelo Santander. Procurada, a Caixa Econômica Federal informou que o resultado do banco será divulgado nos próximos dias e não comenta planos sobre a capitaliza­ção da instituiçã­o. /

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil