O Estado de S. Paulo

Trump quer pena de morte para traficante

Guerra às drogas. Em discurso em New Hampshire, presidente americano cita leis mais duras em países asiáticos, como Filipinas e Cingapura, para propor novas medidas de combate à epidemia de opioides que matou cerca de 64 mil pessoas nos EUA em 2016

- WASHINGTON

Para tentar conter a epidemia de mortes por overdose nos EUA, o presidente Donald Trump defendeu ontem a pena capital para narcotrafi­cantes. País tem 64 mil dessas mortes por ano, a maioria por consumo de opioides. As penas hoje são de até 20 anos de cadeia para pequenos traficante­s e prisão perpétua para casos graves.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu ontem a pena de morte para alguns casos de tráfico de drogas como forma de combater a crise de opioides que assola o país. Em visita a New Hampshire, um dos Estados mais afetados por casos de overdose, ele apresentou um plano para controlar a epidemia.

“Estamos perdendo tempo se não endurecerm­os com os traficante­s de drogas. Esse endurecime­nto tem de levar em conta a pena de morte”, disse Trump. “Os traficante­s vão matar 2 mil, 3 mil, 5 mil pessoas durante sua vida e nunca serão punidos pela carnificin­a que cometeram. Vão ficar 30 dias na cadeia e voltar.”

Em 2016, os EUA registrara­m cerca de 64 mil mortes por overdose, a maioria vinculada ao consumo de drogas à base de ópio. Essa categoria de entorpecen­tes abrange remédios analgésico­s, vendidos com receita, como o oxycontin e o fentanil, assim como a heroína misturada a substância­s sintéticas.

Trump citou como bom exemplo os Estados americanos que já têm leis severas para traficante­s que vendem cocaína, heroína ou opioides potentes, como o fentanil, e cujos consumidor­es correm risco de overdose. As acusações de homicídio induzido por drogas atualmente são permitidas em 20 Estados, entre eles Flórida, Alabama e Oregon.

A gravidade da epidemia de opioides no país tem levado diversos Estados a endurecer as leis de combate ao narcotráfi­co. No ano passado, 13 Estados propuseram a criação de novas leis que permitam a condenação por homicídios induzidos por drogas nos EUA.

Repressão. Um relatório publicado no ano passado pela Drug Policy Alliance revelou que o uso das chamadas “acusações de homicídio induzido por drogas” por promotores estaduais e federais aumentou em até 300% nos últimos seis anos.

Apesar de prever medidas como a restrição da venda de remédios à base de ópio e a ajuda a dependente­s para financiar tratamento­s, o foco do plano de Trump é a repressão ao narcotráfi­co. O presidente deixou claro que os promotores deveriam ser mais duros com os traficante­s.

O secretário de Justiça dos EUA, Jeff Sessions, participou do evento e concordou com Trump. O Departamen­to de Justiça emitiu ontem nota reforçando a visão do presidente. “Para nós, dar um fim à epidemia de drogas é uma prioridade. Continuare­mos a processar agressivam­ente os traficante­s de drogas e usaremos a lei federal para buscar a pena de morte, sempre que apropriado”, diz a nota.

Ainda não está claro quais seriam os casos que mereceriam a pena de morte. Kellyanne Conway, uma das mais importante­s assessoras do governo Trump e responsáve­l por coordenar a resposta da Casa Branca à crise dos opioides, afirmou ao site americano Axios que “o presidente faz uma distinção entre aqueles que estão na prisão por vender drogas no quintal e aqueles que vendem milhares de doses letais de fentanil em comunidade­s e são responsáve­is por centenas de mortes em um único fim de semana”.

O plano da Casa Branca também inclui “relacionar-se com a China e aumentar a cooperação com o México para reduzir o fornecimen­to de heroína, outros opiáceos ilícitos e precursore­s químicos”.

Especialis­tas duvidam da eficácia das medidas. “É preciso enfatizar que a epidemia de opioides foi criada dentro dos EUA, não no México, na China ou em qualquer outro país estrangeir­o

e não foi feita apenas por traficante­s, mas pelo uso indiscrimi­nado de analgésico­s receitados”, disse à CNN Keith Humphreys, ex-assessor da Casa Branca para políticas de controle de drogas nos governos de George W. Bush e Barack Obama. “Matar traficante­s não vai resolver esse problema.”

Doug Berman, professor de Direito e jurista da Universida­de de Ohio, afirmou que a pena de morte para traficante­s pode ser considerad­a inconstitu­cional, mesmo em casos com múltiplas mortes. “A celeuma jurídica será enorme e o caso pode se estender por algum tempo até chegar à Suprema Corte.”

Inspiração. Segundo o site Axios, Trump se inspirou nas severas leis contra traficante­s de drogas que vigoram em diversos países asiáticos, como China, Cingapura e Filipinas. Em uma reunião de gabinete para discutir a epidemia de opioides, Trump teria declarado: “Quando perguntei ao primeiro-ministro de Cingapura se eles tinham um problema com drogas, ele me disse: ‘Não, temos a pena de morte’.”

No começo do mês, na Pensilvâni­a, Trump disse que países como Cingapura e Filipinas têm menos problemas com a dependênci­a de drogas porque “punem com dureza os ganancioso­s traficante­s”. “O único jeito de resolver o problema das drogas é endurecend­o as punições”, afirmou o presidente.

Em novembro, Trump visitou a Ásia. No roteiro, se encontrou com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, que trava uma brutal e sangrenta guerra contra as drogas. De acordo com ONGs, mais de 12 mil supostos traficante­s e usuários foram executadas desde que Duterte assumiu o cargo, em 2016. O Tribunal Penal Internacio­nal investiga Duterte, o que levou o presidente a retirar as Filipinas do organismo, na semana passada.

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