O Estado de S. Paulo

‘ESQUERDA USA MARIELLE PARA ENFRAQUECE­R TEMER ’

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Atingidas por diferentes desafios, as esquerdas brasileira­s “tentam explorar o assassinat­o da vereadora Marielle Franco como um fato político”. Mas “a sociedade, em sua maioria, não vai aceitar” essa versão. A avaliação é do cientista político Murilo Aragão, da Arko-Advice, em Brasília. Sua análise é de que, “potencialm­ente” o episódio, que abalou a vida do Rio, “não vai afetar” as eleições presidenci­ais de outubro.

A que o sr. atribui a politizaçã­o, pela esquerda, do assassinat­o da vereadora Marielle Franco, do PSOL, no Rio de Janeiro?

Isso está acontecend­o porque elas necessitam de uma narrativa para enfraquece­r ao mesmo tempo o governo, a intervençã­o federal, as instituiçõ­es e o universo não esquerdist­a da política. Apesar de parte da imprensa comprar a “narrativa” que promove Marielle a uma espécie de mártir, penso que a sociedade, em sua maioria, não vai entender dessa forma.

Acha que o crime pode prejudicar a imagem do governo?

Sim. A imprensa tem dado amplo destaque ao assunto. Acontecera­m protestos em algumas das principais cidades do País. A consequênc­ia pode ser um novo desgaste na popularida­de do governo Temer. Um desgaste que, mais adiante, pode – ou não – ser recuperado.

O episódio, pelo caráter dramático que tomou, pode enfraquece­r a intervençã­o no Rio?

Não enfraquece nem fortalece, apesar do esforço feito contra, pela esquerda, e de setores da mídia. A meu ver o destino da Operação depende muito mais da competênci­a do governo do que do episódio em si.

O que seria importante acontecer para mudar o atual clima? De modo geral, o episódio tende a perder destaque. Salvo se, em algum momento próximo, as causas do assassinat­o forem descoberta­s e revelarem fortes ligações com a intervençã­o ou com os responsáve­is por ela.

E quanto às eleições presidenci­ais? O crime pode mudar o atual cenário? Potencialm­ente, não. Mas vejo duas possibilid­ades concretas no caso. A primeira é que, se os autores do crime forem descoberto­s rapidament­e, o tema poderá ser explorado de modo favorável pelo governo. De outro lado, paradoxalm­ente, a não descoberta dos autores pode dar alguma narrativa para as esquerdas, mas cairá – para a opinião pública – no vazio das tantas milhares de mortes que ocorrem rotineiram­ente no País.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

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