O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

Juiz ordena prisão de ex-executivo da Engevix após 2ª instância e cita ministros do Supremo

- Ricardo Brandt Julia Affonso Luiz Vassallo Fausto Macedo

Quanto mais o cerco se fecha em torno do ex-presidente Lula, mais as pressões e as divergênci­as internas aumentam no Supremo.

Ao mandar prender o ex-vicepresid­ente da Engevix Gérson de Mello Almada, após condenação em segunda instância, o juiz federal Sérgio Moro disse que eventual alteração no entendimen­to do Supremo Tribunal Federal sobre o tema seria “desastrosa”. Para ele, a jurisprudê­ncia estabeleci­da pela Corte em 2016 – pela execução de pena após decisão de segundo grau judicial – “é fundamenta­l, pois acaba com o faz de conta das ações penais que nunca terminam”.

Moro também citou ministros do STF que podem votar contra a execução de pena para condenados em segunda instância. “Espera-se que a jurisprudê­ncia que nos permitiu avançar tanto e que é legado do ministro Teori Zavascki não seja revista, máxime por uma Corte com o prestígio do Supremo Tribunal Federal e por renomados ministros como Rosa Weber,

O Vem Pra Rua enviou ontem carta ao STF de apoio à prisão em 2ª instância. O documento também é subscrito pelo Instituto Não Aceito a Corrupção e Aliança Brasil.

Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Marco Aurélio e Ricardo Lewandowsk­i.”

O Supremo tem sido pressionad­o a colocar novamente em pauta a prisão em segunda instância – alguns ministros da Corte já indicaram que podem rever seus posicionam­entos. A manifestaç­ão de Moro ao mandar prender Almada, de ontem, diz que existem “rumores” sobre possível mudança na jurisprudê­ncia do plenário do STF, “mas nenhuma decisão colegiada foi tomada nesse sentido.”

“Eventual alteração seria desastrosa para os avanços havidos recentemen­te em prol do fim da impunidade da grande corrupção no Brasil”, afirmou.

A sentença de Moro relativa ao ex-vice-presidente da Engevix foi reformada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), que aplicou, em junho do ano passado, 34 anos e 20 dias ao ex-executivo por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e pertinênci­a à organizaçã­o criminosa. Almada foi acusado de pagar propina de R$ 15.247.430 no esquema na Petrobrás.

Na decisão de ontem, Moro afirmou que eventual alteração no entendimen­to do STF “colocaria em liberdade” não só Almada, mas “vários criminosos poderosos condenados”.

Defesa. O criminalis­ta Antônio Sérgio Pitombo disse que Gérson Almada vai se apresentar à Justiça. “Vamos discutir essa questão nos tribunais superiores”, afirmou Pitombo, que vai entrar com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Não é apenas a discussão se pode ou não pode a execução da pena, mas a absoluta falta de critério legal para fixação da pena.”

A Engevix informou que Almada “já se desligou da empresa”.

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ALBARI ROSA/AGÊNCIA DE NOTÍCIAS GAZETA DO POVO-29/1/2016 Curitiba. Gérson Almada em janeiro de 2016, após depor
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NA WEB Documento. Veja a decisão do juiz Sérgio Moro estadao.com.br/e/gersonalma­da

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