O Estado de S. Paulo

hEIDELBERG DOS FILÓSOFOS

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Em 1838, o poeta Victor Hugo descreveu em uma carta suas impressões a respeito de uma visita a Heildeberg. O antigo castelo, que até hoje encanta turistas, provocou no escritor enorme reflexão. “É absolutame­nte essencial falar do castelo, e eu deveria ter na verdade começado por ele”, anota. “Por quantas coisas ele passou. Há cinco séculos, tem sido vítima de todos os conflitos que sacudiram a Europa. E se hoje restam apenas suas ruínas, isso é porque este castelo sempre assumiu uma postura de oposição aos opressores e poderosos.”

O comentário de Victor Hugo é simbólico da história de Heidelberg, a 100 quilômetro­s de Frankfurt. No século 12, as áreas à margem do Rio Neckar se tornam um pilar do poder do Império Romano – e, mais tarde, centro de disputas políticas que ajudariam a definir a cara do império germânico.

Apesar estar no centro de antigas batalhas, a cidade não foi atingida por bombardeio­s na Segunda Guerra. Preserva, em sua arquitetur­a, uma janela aberta em direção à própria evolução da cultura ocidental.

O castelo, que domina a paisagem da cidade no alto do Monte Königstuhl, começou a ser construído no século 16, durante a Idade Média, à qual suas arcadas de estilo gótico remontam. O que resta de seu interior, contudo, nos aproxima do Renascimen­to e de uma nova visão de mundo, menos pautada no medo e mais aberta ao pensamento e à razão. É o que nos mostram, por exemplo, seus amplos jardins, de onde se vê toda a cidade – e onde Goethe, um dos pais da cultura alemã, gostava de passar o tempo. A universida­de A referência aos filósofos não é gratuita. É em Heidelberg que está a mais antiga universida­de alemã, de 1386 – e a presença até hoje de estudantes dá à cidade uma atmosfera viva e dinâmica. Heildelber­g também foi um dos centros de irradiação da Reforma Protestant­e, com a qual Martinho Lutero propunha uma atuação religiosa menos pautada pela relação com a igreja e mais voltada ao que ele considerav­a os verdadeiro­s ensinament­os divinos – espírito preservado na arquitetur­a da Igreja do Espírito Santo, localizada na Marktplatz.

Mais tarde, no fim do século 18, um grupo de poetas e escritores, formado por nomes como Joseph von Eichendorf­f e Clemens Brentano, propôs um novo caminho para a arte germânica, baseado na relação com a natureza, abrindo espaço para o Romantismo. Como Chegar Heidelberg pode ser visitada num bate-volta a partir de Frankfurt, embora o castelo ocupe um dia inteiro. Há várias opções de trens. Descendo na Estação Central, pegue o ônibus 33 e depois o funicular para chegar ao castelo. Entrada

7; schloss-heidelberg.de.

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