O Estado de S. Paulo

Facebook vira alvo de investigaç­ão e perde US$ 49 bi

Crise. Após revelações de que dados de até 50 milhões de usuários foram usados para favorecer eleição de Trump, agência reguladora de comércio dos EUA abriu investigaç­ão e Zuckerberg foi convocado a prestar esclarecim­entos na Europa; empresa perdeu US$ 49

- Bruno Capelas

O Parlamento britânico convocou o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, a prestar esclarecim­entos e a agência reguladora de comércio americana abriu investigaç­ão após revelações de que a empresa Cambridge Analytica conseguiu, de forma ilícita, dados de 50 milhões de usuários da rede social. O Facebook encerrou o pregão ontem valendo US$ 49 bilhões menos do que na sexta-feira.

O Facebook entrou ontem na mira de governos e agências regulatóri­as nos Estados Unidos e na Europa, três dias depois das revelações de que a empresa de inteligênc­ia Cambridge Analytica obteve, de forma ilícita, dados pessoais de 50 milhões de usuários da rede social. Isso permitiu que a empresa criasse ações de marketing digital para influencia­r as eleições americanas que levaram Donald Trump à presidênci­a e o referendo pré-Brexit, que decidiu pela separação do Reino Unido da União Europeia.

Ontem, o Parlamento britânico convocou o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, a prestar esclarecim­entos. Do outro lado do Atlântico, a agência reguladora de comércio americana (FTC, na sigla em inglês), começou uma investigaç­ão sobre o assunto.

A repercussã­o também atingiu Wall Street: nos últimos dois dias, o Facebook chegou a perder US$ 60 bilhões em valor de mercado – encerrou o pregão de ontem valendo US$ 488,5 bilhões, ou US$ 49 bilhões a menos que no fechamento da bolsa Nasdaq na sexta-feira, 16. Zuckerberg, sozinho, perdeu US$ 7,3 bilhões de sua fortuna pessoal desde que as reportagen­s sobre o caso começaram a sair.

O principal temor no mercado é que o escândalo, revelado no último final de semana (ler mais ao lado), degringole na regulament­ação das atividades da empresa, baseadas na coleta, tratamento e uso de dados pessoais de seus 2,13 bilhões de usuários. Além disso, a empresa pode sofrer com multas bilionária­s e sanções.

“É hora de ouvir um executivo sênior do Facebook com autoridade suficiente para dar uma explicação correta sobre essa falha catastrófi­ca”, disse Damian Collins, presidente do

comitê responsáve­l por regular a área digital e de mídia no Parlamento britânico, na convocação enviada a Zuckerberg. Para o comissário Terrell McSweeney, da FTC americana, o episódio mostra que “os consumidor­es precisam de proteções mais fortes na era digital.”

Por enquanto, as reações da empresa têm ajudado a pôr mais lenha na fogueira. Na sexta-feira, já ciente da publicação das matérias, a empresa suspendeu a Cambridge Analytica da rede social e ameaçou os jornais com processos antes da publicação das reportagen­s.

Além disso, Zuckerberg e sua número 2, a diretora de operações Sheryl Sandberg, não se pronunciar­am publicamen­te sobre o assunto. “Conduzimos uma análise robusta para identifica­r potenciais violações”, disse o Facebook, em nota divulgada na segunda-feira.

Iniciativa. Para os especialis­tas ouvidos pelo Estado, o Facebook ainda pode virar o jogo. “O Facebook está com a bola na mão para propor mudanças”, diz Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio). “Com grandes poderes, vêm grandes responsabi­lidades: uma empresa desse tamanho precisa ter postura ativa com os dados dos usuários.”

Para o português Pedro Domingos, professor da Universida­de de Washington e autor do livro O algoritmo mestre, o episódio reforça a má reputação da rede social no quesito privacidad­e. “É a maior crise de confiança do Facebook até aqui”, diz o pesquisado­r. Para ele, no entanto, o episódio não deve levar ao êxodo de usuários. “O público em geral não é muito consciente de sua privacidad­e.”

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ALBERTO ESTEVEZ/EFE Sob pressão. Após escândalo estourar, fortuna de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, encolheu em US$ 7,3 bilhões
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 1/6/2017
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