O Estado de S. Paulo

Novos rumos Cleo (agora sem sobrenome) vira cantora.

- Pedro Antunes

Ela tinha 17, 18 anos, quando cantou em público, numa apresentaç­ão de show de talentos, pela primeira vez. Ficou petrificad­a. Ao deixar o palco, pensava se ganharia coragem de repetir o feito novamente. “E não levei isso para frente”, conta. A vida apresentou outro caminho, um ano depois, quando foi convidada para atuar, por Monique Gardenberg, no filme Benjamin,

uma adaptação de um livro de Chico Buarque, num daqueles encontros que são obras do acaso, na fila do banheiro de uma festa. Adotou o sobrenome da mãe, em forma de homenagem, ao ingressar no novo ofício. Virou atriz. Virou Cleo Pires.

A atuação tomou Cleo como um furacão. Logo de cara, venceu a eleição do júri do Festival do Rio, de cinema, pelo seu papel no filme de estreia. Engordou o currículo ao longo dos últimos quinze anos, com papéis no cinema e na TV, ganhou manchetes de sites sensaciona­listas pelo espírito libertário que existe dentro dela, sem tabu. “Me apaixonei por ser atriz”, explica ela, em entrevista ao Estado,

na manhã de segunda. “Era muito bom unir o útil ao agradável. E fui reagindo a tudo o que estava acontecend­o ao meu redor. E foi maravilhos­o”, analisa.

O palco e a música se mantiveram ali, escondidin­hos naquele baú das lembranças amargas, trancado pelo medo – neste caso, de voltar a sentir o corpo petrificad­o diante do microfone. “Mas”, ela diz, “desde os 19 anos, essa ideia de me envolver com música voltava à minha cabeça. Como eu iria mostrar as minhas letras? Eu não toco instrument­o, então como faria isso? Eu tinha medo de tudo.”

Ainda aos 17, Cleo havia escrito a música Areia Firme, gravada pelo músico Orlando de Morais, a quem ela chama de “meu pai Orlando”, casado com a mãe dela, a atriz Glória Pires, desde 1987. Curioso é que, justamente nessa letra, gravada por Morais no disco dele de 2001 chamado Na Paz, vinha a resposta que Cleo buscava quando o assunto era música: “Cada vez que desço ao fundo (do mar) é diferente”, diz um verso.

Faltava tentar de novo. No segundo semestre do ano passado, diante de um intervalo no ofício de atriz, depois de gravar três filmes que devem estrear em 2018 – Todo Amor, de Marcos Bernstein, Terapia do Medo,

de Roberto Moreira, e Legalidade, Zeca Brito – e antes de iniciar a gravação da novela O Tempo Não Para, o novo folhetim das sete da TV Globo, com estreia prevista para julho, havia tempo para se dedicar à empreitada. Em setembro, conheceu Guto Guerra, produtor e apresentad­or do programa Música na Mochila, do canal Bis, um parceiro “sem amarrar”, como ela, para a empreitada.

Na última segunda-feira, 19, saiu Jungle Kid, um EP com cinco músicas, o primeiro passo da nova carreira de Cleo, agora, sem o sobrenome da mãe, aos 35 anos. “Num certo momento, a frustração (por não estar na música) foi maior do que o medo”, ela conta. “Enfim, me senti preparada para isso.”

Leia entrevista com Cleo sobre sua estreia na música na pág. C5

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