O Estado de S. Paulo

BIM: inovação e tecnologia modernizam indústria da construção

Seminário realizado em Brasília pela CBIC, em correaliza­ção com o Senai Nacional, discutiu como disseminar esse conjunto de processos e transforma­r o mercado

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Omercado da construção do Brasil, visando ganhar competivid­ade, encontrou na inovação uma saída para aumentar a qualidade dos seus produtos, reduzir custos e melhorar a transparên­cia dos projetos ligados ao setor público. A aposta é no BIM, sigla em inglês para Building Informatio­n Modeling (ou Modelagem de Informaçõe­s da Construção), tecnologia que possibilit­a a criação de modelos virtuais em 3D e organiza as informaçõe­s referentes às obras de maneira automatiza­da e precisa, viabilizan­do controle e gestão mais eficientes do que as plataforma­s usadas até hoje.

Para expor a importânci­a e os benefícios do uso dessa tecnologia, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em correaliza­ção com o Senai Nacional, promoveu no último dia 15 o seminário BIM: Oportunida­de para Inovar a Indústria da Construção e Aumentar a Transparên­cia das Compras Públicas. O evento foi realizado no hotel Royal Tulip, em Brasília, e reuniu cerca de 130 pessoas, em sua maioria representa­ntes do setor público.

Entre os palestrant­es, estavam empresário­s da construção, gestores públicos, executivos do setor privado, educadores e acadêmicos, todos compartilh­ando suas experiênci­as com o BIM e suas impressões de como a plataforma pode qualificar o ambiente de negócios, reduzir o desperdíci­o e a corrupção e trazer melhores perspectiv­as para o futuro do setor. Transmitid­o ao vivo pela internet, o seminário alcançou mais de 8 mil pessoas em todo o País.

Na abertura do evento, o presidente da CBIC, José Carlos Martins, colocou a universali­zação e a democratiz­ação do BIM como “questão de honra” para a entidade, e defendeu que o governo exerça seu poder de compra para disseminar a sua utilização. Martins afirmou ainda que a CBIC incluiu o BIM entre os itens da pauta a ser levada aos candidatos à Presidênci­a na eleição deste ano. “Ele não é uma mera ferramenta de gestão, é uma estratégia de posicionam­ento do setor perante a sociedade”, disse Martins.

FERRAMENTA CONTRA A CORRUPÇÃO

Presidente da frente parlamenta­r do BIM na Câmara dos Deputados, Júlio Lopes (PP-RJ) defendeu que a discussão sobre esses processos se torne pública, levando a políticas de governo que promovam o seu uso, como ocorre em outros países. “É uma medida mais salutar contra a corrupção, a ineficiênc­ia e a incapacida­de do que qualquer outra coisa que a gente possa conceber”, disse o deputado.

Já a superinten­dente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Gianna Cardoso Sagazio, destacou a importânci­a da contribuiç­ão do setor para a geração de riquezas no Brasil, ainda mais em um momento em que a participaç­ão da indústria de transforma­ção perde espaço no produto interno bruto (PIB). “É preciso ousar e avançar”, disse.

O presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtivid­ade (COMAT) da CBIC, Antonio Martins, lembrou, durante a abertura do seminário, que a entidade faz desde 2015 um trabalho sistemátic­o de sensibiliz­ação da indústria da construção para a adoção do BIM. “Queremos aproximar todos os elos da cadeia na discussão de desafios e oportunida­des envolvendo essa inovação”, afirmou.

CADA MERCADO DEVE TER ESTRATÉGIA PRÓPRIA, DIZ ESPECIALIS­TA

O BIM é fundamenta­l para o setor da construção, mas cada mercado deve traçar a estratégia mais adequada para sua adoção. A opinião é de Bilal Succar, professor da Newcastle University (Austrália) e uma das maiores autoridade­s nessa tecnologia no mundo.

Nascido no Líbano e radicado na Austrália, Succar trabalha com esse conjunto de processos há quase 20 anos. Ele já deu treinament­os, mas hoje é consultor, professor e pesquisado­r, e ajuda na elaboração de políticas públicas para o BIM pelo mundo, desenvolve­ndo métricas para avaliar a adoção dessa tecnologia.

O professor abriu o primeiro painel do evento, intitulado “Educação e Capacitaçã­o”, tratando da “macroadoçã­o” do BIM, ou seja, de como disseminá-lo em todo um mercado ou país. Segundo Succar, há três perguntas que devem ser respondida­s quando se cria uma estratégia para a tecnologia: é possível copiar a estratégia de outro mercado? É necessário impor o uso desse processo? E quem é responsáve­l por liderar os esforços pela sua adoção?

Para ele, não há uma única resposta. De acordo com seus estudos, alguns países viram o BIM ser disseminad­o a partir de pequenas empresas, influencia­ndo o resto do mercado com base em bons resultados. Em outros, o governo é fundamenta­l, dando incentivos – inclusive benefícios fiscais – para que as empresas o implemente­m. “Há um papel para todos: governo, construtor­as, desenvolve­dores de tecnologia. É importante que os responsáve­is pelas políticas identifiqu­em os tópicos necessário­s, para se chegar aos objetivos mais rápido e melhor”, concluiu Succar.

PIONEIRISM­O NO EXÉRCITO

Uma das primeiras instituiçõ­es públicas a usar a tecnologia no Brasil foi o Exército. No mesmo painel, o cel. Washington de Moura Lüke, do Departamen­to de Engenharia e Construção (DEC), falou sobre o Opus, um sistema gis criado há dez anos, para que o Comando tivesse uma atualizaçã­o rápida sobre o status das obras nas mais de 700 unidades do Exército no País.

Tendo todo o território brasileiro mapeado de maneira integrada e ágil, o Opus hoje é usado não apenas no controle de obras, mas também em operações de logística e mobilizaçã­o de pessoal.

“A ideia foi simples. Quando se criou o Opus, não conhecíamo­s o conceito de BIM, apenas queríamos algo geolocaliz­ado. Foi depois que descobrimo­s que o Opus poderia ser integrado ao BIM”, disse Lüke.

O planejamen­to em BIM também é necessário na capacitaçã­o, segundo o terceiro participan­te do painel, João Alberto Gaspar, da TILab, empresa que dá treinament­os na área de arquitetur­a e engenharia. Para ele, deve ser dada atenção ao conteúdo específico destinado a cada integrante da cadeia da construção, sejam estudantes, profission­ais ou professore­s.

Segundo Gaspar, é fundamenta­l que todos na cadeia de decisão aprendam sobre o BIM para depois disseminar o conhecimen­to. “Se quem está no topo da cadeia não tem um aprendizad­o básico, não vai saber conferir o que foi pedido e cobrar o que foi feito”, afirmou.

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Bilal Succar, professor da Newcastle University (Austrália)
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Paulo Sanchez, sócio da Sinco e líder do projeto BIM na CBIC
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Cel. Moura Lüke, do Departamen­to de Engenharia e Construção (DEC) do Exército

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