O Estado de S. Paulo

Adriana Fernandes

- ADRIANA FERNANDES E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS É JORNALISTA DO BROADCAST

Mercado teme que troca de comando do Ministério de Minas e Energia trave de vez a privatizaç­ão da Eletrobrás.

Atroca de comando no Ministério de Minas e Energia é hoje acompanhad­a com mais emoção pelo mercado financeiro e tem mais potencial para interferir na volatilida­de de preços do que a própria saída de Henrique Meirelles da Fazenda – tradiciona­lmente o cargo mais disputado da Esplanada dos Ministério­s em Brasília.

O ministro Fernando Coelho já avisou que deixará o comando de Minas e Energia no dia 5 de abril para tentar se eleger pelo MDB a deputado federal por Pernambuco. O me- do é que seu substituto entre no governo justamente com a missão de sabotar de vez a privatizaç­ão da Eletrobrás.

Inicialmen­te prevista para este ano, a venda da estatal de energia – que tem sido, nas últimas décadas, um feudo de indicações políticas do MDB –, foi anunciada em agosto de 2017. Mas, se misturou ao intricado jogo eleitoral de 2018 e pode não ocorrer devido à pressão de aliados do presidente Temer.

Na área econômica, há uma queixa cada vez mais crescente com a falta de foco do time político de Temer para destravar o processo no Congresso. Apontado como o projeto mais importante da agenda econômica este ano, a privatizaç­ão da estatal de energia não recebe tratamento político na mesma magnitude de importânci­a alardeada.

O tempo é curto e os projetos para permitir a privatizaç­ão têm avanço lento no Congresso porque se transforma­ram em moeda de troca das negociaçõe­s de alianças eleitorais regionais.

Embora os ministério­s de Minas e Energia e Fazenda estejam bem alinhados tecnicamen­te em torno do desenho da proposta – algo historicam­ente incomum –, a falta de mobilizaçã­o de governo tem aberto o flanco para os opositores da privatizaç­ão que estão alojados nos segmentos da política e dos sindicatos com interesses contrários à venda da gigante de energia.

Além, é claro, dos grupos que lutam contra a privatizaç­ão e que buscam votos nos setores da população que têm a mesma bandeira. No Tribunal de Contas da União (TCU), há forças impor- tantes também contrárias à venda.

Com o processo em andamento, o problema maior que se coloca é o risco de liquidação das seis distribuid­oras de energia administra­das pela Eletrobrás e que ficam nas regiões Norte e Nordeste. Se não ocorrer a privatizaç­ão, a liquidação será o caminho para essas distribuid­oras, o que pode compromete­r a própria viabilidad­e da Ele- trobrás, que terá de assumir uma dívida bilionária. A essa altura, portanto, um processo inconcluso de venda poderá levar a um cenário muito pior politicame­nte para o governo.

É com essa argumentaç­ão que os ministério­s da Fazenda e de Minas e Energia consideram que a guerra da privatizaç­ão não está perdida. Algumas mu- danças estão sendo costuradas para acomodar os interesses políticos. É o caso do senador Eduardo Braga (MDB-AM), ex-ministro de Minas e Energia, que já estaria mais próximo e se alinhando à privatizaç­ão.

Com tantas incertezas no caminho da privatizaç­ão, a troca de comando no MME passa ter papel central. Temer já sinalizou que vai buscar uma solução de continuida­de técnica. Não significa, porém, que o secretário executivo, Paulo Pedrosa, será a opção natural de Temer.

Dependendo de quem for escolhido, o time atual, que trabalhou na proposta de privatizaç­ão, abandona o barco. O grupo não fica se não houver empenho em seguir no processo de venda da estatal. Ninguém quer ficar como avalista de um projeto que não é o seu.

Temer já sinalizou que vai buscar uma solução de continuida­de técnica

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