O Estado de S. Paulo

‘Estou sendo crucificad­o’

Marco Aurélio Mello, que saiu da sessão do STF que decidia sobre habeas corpus de Lula, afirma que Corte sofre ‘patrulhame­nto sem igual’

- Marcio Dolzan / RIO Amanda Pupo Breno Pires Teo Cury / BRASÍLIA

O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello afirmou ontem que a Corte está sofrendo um “patrulhame­nto sem igual” pelas decisões que toma e disse que a sociedade não pode presumir que “todos sejam salafrário­s”.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello afirmou ontem que a Corte está sofrendo um “patrulhame­nto sem igual” pelas decisões que toma e disse que a sociedade não pode presumir “que todos sejam salafrário­s”. Mello, durante evento na Ordem dos Advogados do Brasil no Rio, disse que está sendo “crucificad­o” por ter saído da sessão do Supremo que decidia o futuro do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Estou sendo crucificad­o como culpado pelo adiamento do julgamento do habeas corpus do presidente Lula, porque sou um cumpridor de compromiss­os”, disse o ministro. “Vi hoje nos jornais que estou sendo apontado como culpado, por honrar um compromiss­o que assumi com muita anteriorid­ade, apontado como o causador do adiamento do processo contra o ex-presidente Lula, como se fosse para ontem o julgamento. O Supremo não tem apenas um processo, tem milhares”.

Segundo o ministro, seu voo para o Rio de Janeiro estava marcado para as 19h40 e ele já havia feito o check-in – Mello chegou a mostrar uma folha durante o julgamento, para provar o que dizia – quando foi colocado em votação o pedido de adiamento da sessão. A proposta acabou aprovada.

Ele se queixou de manifestaç­ões que tem recebido e declarou que pediu para excluir duas contas de e-mail e para trocar números de seus telefones, tal era a quantidade de mensagens que lhe foram endereçada­s. “O patrulhame­nto é muito grande. A sociedade tem que pensar que existem homens de bem.”

Sinal. O ministro Marco Aurélio Mello afirmou ao Estado que o julgamento final do pedido de liberdade de Lula sinaliza- rá como os integrante­s do colegiado irão votar nas ações que discutem a prisão após condenação em segunda instância, caso voltem ao plenário.

“No julgamento poderá haver indicativo das ADCs ( ações declaratór­ias de constituci­onalidade que tratam de forma geral do tema). Não faz sentido ministros votarem de uma maneira durante julgamento de habeas corpus no plenário e de outra forma na votação das ações”, disse o ministro.

Para Marco Aurélio, o colegiado é um lugar de “liberdade plena”, onde nenhum ministro está atrelado a algum precedente da Corte. Neste caso, o precedente seria o julgamento de outubro de 2016, no qual o STF firmou a jurisprudê­ncia que permite a execução antecipada da pena.

A discussão volta os olhos pa- ra a ministra Rosa Weber, considerad­a uma incógnita na análise de mérito do pedido de Lula. A ministra, em 2016, se posicionou pela prisão somente após o trânsito em julgado, mas tem respeitado a jurisprudê­ncia em decisões monocrátic­as e na Primeira Turma, que integra junto dos ministros Marco Aurélio, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.

Assim como Marco Aurélio, especialis­tas ouvidos pelo Estado sinalizam que a ministra, por estar no plenário, decidirá por seguir a sua posição pessoal, concedendo o pedido a Lula. O ex-presidente busca evitar a prisão até o esgotament­o de todos os recursos no processo em que foi condenado a 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

“Sem dúvida devem prevalecer no plenário seus próprios posicionam­entos ( dos ministros). O plenário é o local adequado para voltar a rediscussã­o da matéria”, afirmou Marco Aurélio, que é relator das ações que tratam da execução antecipada de pena.

 ?? TOMAZ SILVA/AGENCIA BRASIL ?? Palestra. O ministro Marco Aurélio Mello fala durante o 15º Colóquio da Academia Brasileira do Trabalho na Ordem dos Advogados do Brasil no Rio
TOMAZ SILVA/AGENCIA BRASIL Palestra. O ministro Marco Aurélio Mello fala durante o 15º Colóquio da Academia Brasileira do Trabalho na Ordem dos Advogados do Brasil no Rio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil